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O mercado de softwares não é moldado para os profissionais autônomos ou empresas de pequeno porte"

 

A indústria do software

Mensagem original enviada em: 24 abril 2004
Título original: Softwares

Difícil falar sobre o mercado de softwares. Primeiro: ele não é moldado para os profissionais autônomos ou empresas de pequeno porte. Dando exemplos dos softwares mais citados dentro do universo dos designers (Corel Draw, Phosothop e PageMaker), o custo em reais ultrapassa os R$ 5.000 (estou com a tabela desvalorizada, valores de referências de três anos atrás).

Considerando uma empresa pequena, com três micros, que precise de uma licença para cada micro pra conseguir um desempenho minimamente funcional, esse valor duplica (o valor da segunda licença sofre desconto progressivo em algumas software houses). As soluções corretas são: somente montar a empresa dispondo do capital de investimento inicial para dispor de todos os recursos legalmente ou optar por softwares de livre utilização – os genéricos (ao menos até conseguir retorno financeiro que permita o investimento ns softwares "oficiais").

Agora, de memória, me vem um substituto do photoshop chamado Gimp. Leve e funcional, embora não disponha dos mesmos recursos. O Office também apresenta um substituto, no caso o StarOffice, muito popular entre as empresas que não concordam com política de pirataria e não dispõe de recursos para adquirir o pacote oficial da Microsoft. A própria licença Windows está cotada em torno de R$ 400. O substituto Linux não oferece, ainda, para um profissional da área gráfica, condições suficientes para substituir a plataforma Windows, além de ter sua manutenção terrivelmente inflacionada. Não sei como é a política de licença do ambiente Mac.

Alguns softwares oferecem (o Photoshop, o Flash e se não me engano o PageMaker) um período de avaliação. Esse período varia, mas dificilmente passa de um mês. Uma rotatividade de equipamento permitira trabalhar com os softwares durante o período de avaliação e aí, trocando de máquina, duraria por tantos meses quanto máquinas houvessem disponíveis. Ou mesmo formatando a máquina para resinstalá-los, o que não fere a política dos "trials" (mas se torna inviável do ponto de vista prático: já pensou perder de um a dois dias todo mês para formatar o HD e reinstalar tudo?).

Isso para manter a postura da empresa dentro da legalidade. E tenho dúvidas se essa prática também não é ilegal. Como não deixa rastros, estaria mais para prática "imoral", mas aí é outra discussão. Claro que falar de pirataria é mexer num vespeiro. Trata-se de prática ilegal, e isso é por si só um argumento suficiente para inibir qualquer discussão. Outros temas sociais sofrem do mesmo estigma (discriminalização da maconha, profissionalização "oficial" da função de prostituta, apenas para ficar nos mais polêmicos).

Podemos até discutir sobre o que leva a prática da pirataria. Mas seria uma discussão inócua. É sabido que diversos profissionais lançam mão de um software ilegal eventualmente (ou alguém dentro da empresa, mesmo empresas grandes). As versões educacionais, que não podem seu usadas para fins comerciais, muitas vezes não oferecem todos os recursos necessários para quem quer aprender, e mesmo escolas de informática e webdesign não possuem as licenças para os softwares que ensinam.

Aliás, boa parte das instituições de ensino sofrem com os rios de dinheiro que são obrigadas a gastar para atualizar os softwares anualmente e manterem-se "a frente" do mercado (isso quando o fazem).

Há vários conceitos aí. Ética, moralização de mercado, política de preços abusivas, dificuldade de rastreamento e tantas outras. O que é sabido é que, ao entrar numa concorrência grande, para clientes expressivos, é preciso liberar as instalações para vistoria. Logo, as empresas que optam por práticas desse tipo já ficam restringidas naturalmente nesses termos. Embora nem sempre isso seja exigido por parte dos profissionais autônomos, há algumas práticas intermediárias como a locação de equipamentos legalizados para desenvolvimento de "job".

O ideal é contar com as licenças oficiais, mas nem todo mundo pode. Isso limaria o mercado, aumentaria o preço dos serviços de design (afinal, teríamos que ponderar, em cada orçamento, um percentual relativo ao valor da licença) e deixaria um percentual consideravalmente menor de profissionais na ativa.

Melhor ainda se popularizassem os valores dos softwares. Afinal, não basta ter um programa instalado para se tornar um profissional na área: são apenas ferramentas. E, por serem apenas ferramentas, o lógico seria optarmos pelas mais baratas, ao invés de roubar as mais caras. Embora o conceito de "roubo", em se tratando de softwares, também é confuso (embora a legislação seja clara).

Mas a pergunta causaria o mesmo constrangimento ao listar quais profissionais compraram o equipamento sem nota fiscal, por exemplo. Se não o equipamento completo, algum hardware, em algum momento. Embora seja um deslize menor, não deixa de ser uma postura inadequada, que sob determinados pontos de vista pode parecer justificada. Ainda assim, defender seria pôr a cara pra bater. Poucos poderiam fazê-lo.

Abraços

Rafael Dourado

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