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Qualquer profissional é antes de mais nada um ser social e, como tal, está obrigado a participar ativa e positivamente da construção da teia social do seu entorno."

 

Papel social do designer não é na TV

Mensagem original enviada em: 03 novembro 2002
Por Pedro Fraga

Olá,

O teor das mensagens postadas na lista na última semana suscita várias interrogações e algumas observações. Acredito que ao invés de gritarias levianas e inconseqüentes seria útil e necessário cada um de nós assumir um processo de reflexão crítica. Se por um lado entendo e aceito que este espaço é específico e se destina a servir de fórum para as questões relevantes da prática, da formação e do exercício profissional, não posso ignorar, por outro lado, que qualquer atividade está contida num universo maior, ao qual está subordinada: a sociedade em que tal atividade é exercida. Neste sentido a abordagem de certas inter-relações é sempre útil e saudável, além de evitar cair no equívoco de que tal ou qual atividade confere ao indivíduo o direito e o privilégio de sair por aí a exercer toda e qualquer vontade no papel social que lhe der na telha. Com esse espírito acrescento o texto ao final desta mensagem, acreditando que da sua leitura possa emergir algum reflexo a iluminar o caminho que nos cabe.

É este o mercado? É isso o que a publicidade "vende"? É isso o que a mídia enfatiza e mitifica? Designers querem fazer projetos que vendam produtos? Pensava que a função do designer fosse social e o objetivo do desenho industrial fosse resolver questões de uso e não de consumo. Designers pensam que são publicitários e publicitários, e até mesmo jornalistas, pensam que são designers? Claro! Na alienação consumista atingiu-se a supressão completa da consciência fazendo com que indivídiuos robotizados, todos exatamente iguais, pratiquem o idiota ideal narcisista de se acharem únicos por estarem vestidos de roupagens diferenciadas, e acreditando que isso os faz diferentes entre si. A função social do designer é resolver questões e parâmetros de produção e de uso. É essa também sua função técnica enquanto atividade profissional. Se fosse para vender produtos era só empregar-se em qualquer loja comercial de quinquilharias. É o tal mercado uma realididade, uma necessidade, um anseio, uma vocação, uma peculiaridade intrínsicamente social?

Ser designer não é um exercício de idiossincrasias ou um estado de arrogância concedido por algum deus das imagens. Ser designer é ser capaz de – no âmbito do seu campo profissional – resolver os problemas que lhe são propostos utilizando os recursos e instrumentos apropriados; é ter a visão multifacetada que todo projeto requer; é saber quando determinado projeto requer a contribuição de profissionais de outras áreas. Ser designer, ou médico, ou jornalista, ou arquiteto, ou cientista, ou exercer qualquer outra atividade, é ter presente na consciência que, concomitantemente à necessária formação profissional específica, estamos inseridos numa sociedade para com a qual estamos obrigados a ter não só um comportamento ético apropriado, como contribuir para o seu bem estar e para o aprimoramento dos princípios que a caracterizam. Ou seja, qualquer profissional é antes de mais nada um ser social e, como tal, está obrigado a participar ativa e positivamente da construção da teia social do seu entorno.

O texto a seguir não é sobre design. É sobre aspectos da realidade do nosso tempo. Ainda que seja mais cultural do que político desenha um cenário de nossa realidade atual em diversos níveis onde comparecem vários atores sociais. Atores cujo esforço concentra-se num paradoxo: fazer tudo para ser igual com a convicção de estar sendo diferente; ter a convicção de ser livre para agir e estar desestruturando todos os ideais de liberdade. Felizmente ainda existem indivíduos com discernimento; ainda existem profissionais dos mais diversos saberes que sabem perfeitamente qual é a sua tarefa e lugar na rede social em que estão inseridos; ainda existem indivíduos com capacidade de reflexão e análise crítica; ainda existem indivíduos que lutam para que o mundo social seja a expressão do seu patrimônio coletivo, sem excluir o livre arbítrio e a livre expressão individual. Mas a desagregação, a alienação, o consumo como fim, por razões espúrias estão sendo impostos à sociedade em forma e escala cada vez mais sufocantes.

O texto ao qual acima me refiro pode ser lido aqui.

Cordialmente,

Pedro Fraga

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