Quem mandou gostar do que faz?
Mensagem original
enviada em: 14 julho 2004
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Eu amo meu trabalho. Sempre um novo desafio. Exceto as épocas
em que a concentração das solicitações
são em funções repetitivas e pouco estimulantes,
a maioria do processo requer pesquisa, criatividade, envolvimento.
Trabalho como um apaixonado. Trabalho mesmo quando não
estou trabalhando. Sou pago para fazer aquilo que, em outras
circunstâncias, talvez até pagasse para fazer.
Meu trabalho também é o meu hobby. Me satisfaço
duas vezes. Ao executar e ao receber.
Não me imagino fazendo outra coisa. Segunda-feira,
pra mim, não é um dia ruim. Pelo contrário.
Não raro me deparo sonhando com o trabalho no dia seguinte.
Há anos que não tiro férias e confesso
que pouco me faz falta.
A burocracia que envolve o "antes" e o "depois"
do trabalho me desanima, porque quero produzir, criar, fazer.
Não quero conversar, não quero reuniões
inúteis, não quero me locomover pra longe do
meu foco. Minha prancheta é meu palco. Meus desenhos
são meus atores. Meu briefing é meu roteiro.
Eu seria a pessoa mais feliz do mundo, não fosse um
fato que transforma o sonho em pesadelo.
Não raro, o cliente percebe minha paixão, minha
dedicação, meu esforço como algo que
simplesmente uma relação profissional. Sabe
que estou ali por prazer. E, na sua lógica de empreendedor
que fecha o caixa pensando na pescaria do final de semana,
quem gosta do que trabalha não está trabalhando
de verdade. Não está sofrendo. Não faz
por merecer um salário.
Deve dar descontos. Deve cobrar barato. Deve se sentir grato
pela oportunidade de executar o serviço. E que seja
suficiente.
Afinal, desenhar não é trabalho. Passar o dia
atrás de uma tela brilhante de computador, que não
difere em nada de um videogame, "brincando" de criar
formas, não é uma forma digna e honrada de ganhar
seu sustento, que deve ser fruto de esforço e sacrifício.
Suor, sangue e lágrimas. Como o próprio cliente
em questão e seus funcionários insatisfeitos
e frustrados. Quem ousa gostar do que faz já deveria
sentir-se remunerado apenas pelo privilégio de fazer
algo estimulante.
E é com essa mentalidade que cada vez mais profissionais
apaixonados se vêem enclausurados em estruturas castradoras
e cruéis, sugando sua vitalidade em troca do, aí
sim, merecido salário no final do mês. Daquele
que só é digno quem não expressa o sorriso
no rosto todos os dias.
Sim, eu amo o que faço. E não me sinto culpado.
E não faço de graça (sim, eventualmente
faço, mas só pra quem eu quero). Ser feliz com
seu emprego é o passo mais importante para alcançar
excelência em sua função. Seja ela qual
for.
Rafael B. Dourado
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