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Comumente é necessário lidar com problemas e soluções em forma simultânea, uma estratégia que se revela como o melhor caminho para enfrentar problemas 'mal definidos'."

 

A diferença entre "foco no problema e foco na solução"

Enviado: 28 fevereiro 2002

A contribuição da Shilrley é muito oportuna e interessante para entender porque os métodos racionais ou cartesianos são de modo geral inadequados para se trabalhar em design. Rittel e Webber (RITTEL & WEBBER "Planning Problems are Wicked Problems", em "Developments in Design Methodology", N. CROSS, Ed.) introduziram a idéia dos problemas marotos ou problemas endiabrados ("Wicked Problems" no texto deles), associados com processos de design em geral.

Segundo Rittel e Webber, os problemas de design são "mal-definidos", ou seja, não têm uma definição única nem definitiva; por outro lado, tampouco existem soluções únicas nem definitivas, o que significa que diferentes soluções poderão ser respostas igualmente válidas para um dado problema. Tudo irá depender então da cabeça do designer ou projetista encarregado do problema. Nesse sentido, as maneiras de se formular um problema estarão associadas com as maneiras de resolvê-lo, sendo difícil chegar a uma formulação sem referir-se (seja de forma explícita ou implícita) a um conceito de solução. E a escolha de uma formulação que irá influir na maneira segundo a qual o problema será resolvido.

Apesar dessa falta de definição inicial, típica dos problemas de design, sempre é possível dar alguns passos no sentido de melhorar a definição. Isso pode ser feito questionando o cliente, coletando mais informações, fazendo pesquisas, ou ainda usando algum procedimento ou técnica racional como ajuda para a coleta de informação. Porém, o que normalmente caracteriza o trabalho do designer é a sua habilidade de se mover com rapidez em torno de uma ou mais soluções potenciais (trabalhando quase sempre com pouca informação), conseguindo com isso uma maior compreensão do problema. Assim, identificado um certo número de alternativas, o designer – do mesmo modo que um bom jogador de xadrez – poderá prever os desdobramentos de uma jogada, escolhendo aquela mais promissora. Esse tipo de estratégia, centrada na solução do problema, é típica do design e, como é possível ver, está muito longe do cartesianismo. Nesse sentido, os cientistas têm uma mentalidade diferente, com uma sólida base analítica, o que os faz optar por abordagens orientadas ou centradas no problema, onde sim é possível o uso de abordagens cartesianas.

As estratégias de resolução usadas no design refletem a natureza dos problemas a serem resolvidos. Nesse caso, comumente é necessário lidar com problemas e soluções em forma simultânea, uma estratégia que se revela como o melhor caminho para enfrentar problemas "mal definidos".

Um estudioso do tema do design, acho que Jones, (JONES, J.C., "Design Methods – Seeds of Human Futures", Wiley Interscience, London, 1970.), disse uma frase que ilustra muito bem essa diferença de foco: "um cientista estuda aquilo que já existe, enquanto que um designer cria aquilo que ainda não existe".

Maurício

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