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Não
sou a favor da cópia, mas da assimilação,
digestão e reformulação do conhecimento,
na geração de uma nova leitura, de um
conhecimento revisto sob uma nova ótica."
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Copyleft
Mensagem original
enviada em: 02 maio 2003
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Antes de tudo, parabéns ao Rafael
Wally pelo belo trabalho na entrevista do Grito.
Ele já fez o "comercial" na lista, mas não
custa reforço para bom material:
http://www.grito.com.br/entrevistas/gustavopiqueira.asp
Aliás, a indicação do link e, dessa
forma, a admissão pessoal e pública sobre a
qualidade, pertinência e valor que intrinsicamente está
se dando ao conteúdo, é também assunto
desse e-mail. Aproveitando meu pulo ao Grito, dei uma lida
no artido do Rafael, que experimenta algumas argumentações
e elucidações sobre informação
livre, que é a sugestão para debate aqui no
grupo. O artigo em questão, ponto de partida, está
no final desta mensagem.
Para começar acho importante o assunto, que tem relação
estreita com o nosso dia-a-dia, seja na produção
ou na reprodução de conhecimento visual e, daí,
podemos estabelecer vínculo entre os assuntos e nossa
atividade.
O termo aqui é copyleft, uma brincadeira que significaria
algo do tipo "deixe copiar". Se me perguntarem se
sou contra ou a favor, sem meios termos, entraria na corrente
de contra. Mas o caso aqui é exatamente o debate, para
se identificar as nuances e possíveis benefícios,
a partir do esclarecimento de posições.
O meio digital, em particular a internet pode ser o meio
mais favorável ao copyleft; por outro lado, também
será o mais desfavorável que o direito autoral
se faça existir, no mínimo, informalmente. A
gente pode discutir formatos que facilitem a disseminação
da informação, da obra, enfim, mas como disse,
em princípio eu vejo um certo perigo na má interpretação
da abordagem e abrangência do tal copyleft. Indo além,
eu sinto uma parcela de oportunismo em alguns tipos de replicações
e podemos iniciar analisando a própria rede mundial.
Quando falo em oportunismo, não se poderia generalizar,
pois existirão as cópias "ingênuas"
ou, como analisa o artigo do Wally que citei, os fins acadêmicos,
sem fins lucrativos e comunidades utilizando e justificando
a tal informação livre num fim positivo. (Para
pensar: diferenciar informação da sua forma.)
Ainda sobre o artigo, sugere-se que o autor detém
os benefícios autorais da produção, recebendo
seus "honorários" em forma de reputação.
Veja que eu nem quero entrar em questões financeiras:
falo de justiça! Tomemos a entrevista que começei
elogiando no início como exemplo hipotético:
pelo princípio do copyleft, eu poderia, no meu "direito
informal", copiar todo o conteúdo do artigo (incluindo
imagens?) e republicá-lo no site da [dG], citando a
fonte. Depois crio chamadas na capa, faço um comercial
nas listas e abocanho uma boa visitação para
o "meu" site.
Repare que estou exagerando a situação pra
ilustrar possibilidades práticas. É claro que
o autor original tem a sua legitimidade autoral mantida até
certo ponto (se feitas as devidas citações de
fonte) e, aquela história, quem faz primeiro, pode
refazer melhor, enfim. Concordo. Mas a produção
de conteúdo exige um gasto de energia: no ato da pesquisa,
na criação, na produção, no caso
do artigo leva-se em consideração que o conteúdo
gerado com o entrevistado só foi possível em
decorrência da reputação do próprio
site, enfim. O copyleft se apropria gratuitamente de grande
parte dessa energia gasta pelo seu autor, e por mais ênfase
que se dê na citação da fonte, o meio
"pirata" (no nosso exemplo, o site xerox) ofusca
a origem.
A informação é boa? É. Foi retransmitida
com seu conteúdo integralmente fiel e a fonte citada
na cópia (com o grau de ênfase oportunamente
selecionada pelo replicante)? Foi. Quem saiu ganhando?...
Como sou contra redundância de conteúdo na internet,
evito ao máximo cópia de conteúdo. Ao
invés disso, se sou editor de um site "concorrente"
e gosto do conteúdo alheio eu não vou replicá-lo
oportunamente no "meu" espaço (e citar a
fonte como se isso redimisse a minha falta de iniciativa em
gerar um novo conteúdo), mas simplesmente faço
uma referência ao conteúdo no seu espaço
original. Este sim, ao meu ver, garante uma legitimidade ao
universo que envolve o direito autoral de quem gerou a informação.
Então, a "linkagem" é justa e digna,
não o clone.
Resumindo: o copyleft não deve ser levianamente traduzido
como chupação de conteúdo de um veículo
para outro, ou de um meio para outro. A informação
livre, praticada nesse formato, tende a desviar créditos
para oportunistas de plantão. Os recursos de hiperlink
da internet não justificam essa redundância de
conteúdo, se analisada do ponto de vista da liberdade
de acesso à informação. A pirataria,
mascarada de "reconhecimento", na verdade, pode
estar sendo praticada simplesmente para fins restritos, unilaterais.
Finalizando, não sou a favor da cópia, mas
da assimilação, digestão e reformulação
do conhecimento, na geração de uma nova leitura,
de um conhecimento revisto sob uma nova ótica. Tomemos
outro exemplo, o da arquitetura digital livre: o hardware
e software livre. Estes estão acessíveis com
sua forma orgânica visível (seu código,
suas estruturas etc.), onde dessa forma, está aberta
a intervenções das mais diversas, gerando novos
formatos e, assim por diante, diversa e evolutivamente. Exemplos
atuais: PCs, Linux, jogos eletrônicos com modificaões
de sucesso, como Counter-Strike, enfim.
Estas são características interessantes a serem
pensadas para o copyleft, mas há de se separar o que
é pura, preguiçosa e oportuna cópia (e
domínio), da absorção e reformulação
do pensamento e expressão (em forma de foto, cinema,
som etc.). Afinal, o que poderia ser a melhor face da informação
livre: o desenvolvimento, pode acabar tornando-se desculpa
consciente para uma inércia produtiva por conta de
clones e mais clones digitais.
Como prometido: http://www.grito.com.br/artigos/wally018.asp
)C( copyleft. Permitida a cópia desde que citada a
fonte e acrescida da opinião de quem copia!
(Brincadeira!)
Abraços
Alexandre Alexo Maravalhas
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