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O designer e o seu cliente devem conseguir libertar-se
de critérios de gosto pessoal; o importante
é definir uma personalidade de produto" |
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Como avaliar o design?
Mensagem original
enviada em: 20 maio 2005
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Para muitos, esta seria uma questão de argumentos,
que mais cedo ou mais tarde iria cair nas questões
de gosto ou estética e cultura pessoal.
Muitos acreditam que design, qualquer um pode fazer, que
basta ter um jeito inato para o desenho e algum engenho, mas
será assim? Ora vejamos, todos sabemos escrever, mas
só um jornalista tem técnicas e saber-fazer
para organizar conteúdos e adequar a notícia
eficazmente para o seu leitor destinatário. Do mesmo
modo, criar uma imagem que comunique com eficácia,
implica dominar códigos e gramáticas visuais
nem sempre evidentes para todos (nem mesmo designers).
Uma embalagem de leite barato só estará bem
feita se o leite parecer barato aos olhos do consumidor
e por isso, defendo que estilo, só o do produto.
Por isso "fazer bonito" não basta e para
analisar a eficácia do design; o designer e o seu cliente
devem conseguir libertar-se de critérios de gosto pessoal.
O importante é definir uma personalidade de produto
a qual reflita neste e que está em sintonia com o cliente,
mediante arquétipos emocionais e gráficos.
O Designer deve conjugar aspectos criativos, técnicos
e orçamentais, tendo em conta o contexto e
a apetência do destinatário, para obter
bons resultados.
Os consumidores não analisam a imagem mas reagem a
ela e são eles, em última instância, quem
dita o sucesso ou o fracasso de um negócio. Por isso
o trabalho não tem de agradar ao gosto do cliente do
designer, mas sim do consumidor.
Como designer, professor e membro associativo, todos os dias
sou confrontado com a necessidade de explicar o que é
o design, e acreditem que é nesta questão que
residem grande parte dos males, pois os próprios designers
confundem com styling mesmo quando não têm
consciência disso.
Por outro lado, muitos designers desconhecem a grande arma
que têm nas mãos (o poder de manipular a imagem
visual e em conseqüência, a mental e social), enquanto
outros, sem escrúpulos, se aproveitam maleficamente.
Mas na verdade os fastdesigners com as suas lojas
de conveniência passam a imagem de que identidade do
produto é apenas um bonito aspecto com uma boa justificação,
enquanto outros designers têm formação
deficiente, não entendem, não conhecem nem têm
qualquer sentido estratégico no seu trabalho (onde
a componente gráfica se integra, mas onde é
uma pequena parte).
O designer deve ser um agente neutro no projeto de um produto,
mas também uma garantia de qualidade final, a qual,
por sua vez, envolve o impacto social e ambiental deste (ao
nível ecológico e humano). Por isso, como produtor
de objetos, o designer deve saber que o seu trabalho deve
contribuir para facilitar o dia-a-dia das populações,
seja ao nível ecológico, evitando o ruído
visual, por exemplo, direcionando corretamente a mensagem,
pensando na funcionalidade e utilidade do objecto, mas também
projetando de acordo com cada cultura e estado social.
Por isso, a minha resposta é que o design se avalia
pela resposta ao problema. Um trabalho pode ser esteticamente
pobre para mim, mas ser bem funcional ao nível estético
para o seu público, e nesse sentido também é
função. Depois, também pela eficácia
na resolução do problema pelo qual foi criado
(na transmissão de uma mensagem, por exemplo), a qual
está relacionada com o bem-estar e lucro do emissor
(empresa que encomendou), e na utilidade, ou seja, o utilizador
tem mesmo necessidade dele e não é molestado
por este (não constitui ruído, nem o prejudica
economicamente, nem moralmente), assim como é responsável
(procura ser amigo do ambiente).
Vale a pena pensar nisso.
Cumprimentos,
Daniel Raposo
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