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O designer e o seu cliente devem conseguir libertar-se de critérios de gosto pessoal; o importante é definir uma personalidade de produto"

 

 

Como avaliar o design?

Mensagem original enviada em: 20 maio 2005
Por Daniel Raposo

Para muitos, esta seria uma questão de argumentos, que mais cedo ou mais tarde iria cair nas questões de gosto ou estética e cultura pessoal.

Muitos acreditam que design, qualquer um pode fazer, que basta ter um jeito inato para o desenho e algum engenho, mas será assim? Ora vejamos, todos sabemos escrever, mas só um jornalista tem técnicas e saber-fazer para organizar conteúdos e adequar a notícia eficazmente para o seu leitor destinatário. Do mesmo modo, criar uma imagem que comunique com eficácia, implica dominar códigos e gramáticas visuais nem sempre evidentes para todos (nem mesmo designers).

Uma embalagem de leite barato só estará bem feita se o leite parecer barato aos olhos do consumidor e por isso, defendo que estilo, só o do produto.

Por isso "fazer bonito" não basta e para analisar a eficácia do design; o designer e o seu cliente devem conseguir libertar-se de critérios de gosto pessoal. O importante é definir uma personalidade de produto a qual reflita neste e que está em sintonia com o cliente, mediante arquétipos emocionais e gráficos.

O Designer deve conjugar aspectos criativos, técnicos e orçamentais, tendo em conta o contexto e a apetência do destinatário, para obter bons resultados.

Os consumidores não analisam a imagem mas reagem a ela e são eles, em última instância, quem dita o sucesso ou o fracasso de um negócio. Por isso o trabalho não tem de agradar ao gosto do cliente do designer, mas sim do consumidor.

Como designer, professor e membro associativo, todos os dias sou confrontado com a necessidade de explicar o que é o design, e acreditem que é nesta questão que residem grande parte dos males, pois os próprios designers confundem com styling mesmo quando não têm consciência disso.

Por outro lado, muitos designers desconhecem a grande arma que têm nas mãos (o poder de manipular a imagem visual e em conseqüência, a mental e social), enquanto outros, sem escrúpulos, se aproveitam maleficamente. Mas na verdade os fastdesigners com as suas lojas de conveniência passam a imagem de que identidade do produto é apenas um bonito aspecto com uma boa justificação, enquanto outros designers têm formação deficiente, não entendem, não conhecem nem têm qualquer sentido estratégico no seu trabalho (onde a componente gráfica se integra, mas onde é uma pequena parte).

O designer deve ser um agente neutro no projeto de um produto, mas também uma garantia de qualidade final, a qual, por sua vez, envolve o impacto social e ambiental deste (ao nível ecológico e humano). Por isso, como produtor de objetos, o designer deve saber que o seu trabalho deve contribuir para facilitar o dia-a-dia das populações, seja ao nível ecológico, evitando o ruído visual, por exemplo, direcionando corretamente a mensagem, pensando na funcionalidade e utilidade do objecto, mas também projetando de acordo com cada cultura e estado social.

Por isso, a minha resposta é que o design se avalia pela resposta ao problema. Um trabalho pode ser esteticamente pobre para mim, mas ser bem funcional ao nível estético para o seu público, e nesse sentido também é função. Depois, também pela eficácia na resolução do problema pelo qual foi criado (na transmissão de uma mensagem, por exemplo), a qual está relacionada com o bem-estar e lucro do emissor (empresa que encomendou), e na utilidade, ou seja, o utilizador tem mesmo necessidade dele e não é molestado por este (não constitui ruído, nem o prejudica economicamente, nem moralmente), assim como é responsável (procura ser amigo do ambiente).

Vale a pena pensar nisso.

Cumprimentos,

Daniel Raposo

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