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Diário do NDesign
A ida
Saímos de Sampa às 14:30h do Sábado
dia 22, em dois ônibus, com o pessoal do Mackenzie,
Faap e FDI, além de, no caminho, pegar os alunos de
Lorena. Seguindo viagem tranqüila até a quebra
do outro ônibus, que chegou a fundir o motor, tivemos
que esperar por mais de uma hora a definição
do que fazer. Finalmente prosseguimos a viagem sem o outro
pessoal, que teve que aguardar um novo ônibus que saiu
de Sampa para socorrê-los. Já estávamos
quase na divisa com o Rio de Janeiro.
Tudo parecia tranqüilo quando, ao passar pelo Espírito
Santo a polícia rodoviária resolveu averigüar
os nomes dos passageiros, que logicamente não estavam
regulares, pois havia nomes que estavam na listagem do outro
ônibus, incluindo os nossos. Isto causou mais um atraso
de mais de uma hora, além de uma molhada de mão
do policial. Depois destes pequenos entraves, e muito buraco
na estrada, finalmente chegamos a Salvadô na segunda-feira,
em apenas 40 horas.
O credenciamento
Para cada participante estava reservada uma ficha de reserva
para oficinas (workshops), que totalizavam 60 opções.
Porém com 1500 participantes do Brasil todo e com um
limite de 20 vagas por oficina, aqueles que chegaram tarde,
como nós, tiveram que conseguir as vagas quase no tapa.
Muita confusão e a falta de informações
precisas foram as características do credenciamento.
Finalmente conseguimos estar devidamente inscritos, e com
alguma sorte até em mais de uma oficina.
A repentina
A primeira atividade foi no Pelourinho, uma praça
histórica no centro antigo de Salvador com arquitetura
colonial, e muita história escondida nas paredes da
época da escravidão.
A repentina foi uma oficina de criação de instrumentos
musicais a partir de sucata. Diversos materiais foram disponibilizados
como garrafas plásticas, barbante, folha de flandres,
copinhos plásticos, arame, fitas adesivas, latas de
alumínio, pregos, tubos de papelão e lixos diversos,
como casca de côco, tampinhas de garrafa, jornal. Foram
divididos grupos numerados e cada um tinha uma quantidade
limitada de recursos para criarem instrumentos em conjunto
ou individualmente. Algumas idéias foram inovadoras,
outras nem tanto, tiveram aquelas que nem chegaram a funcionar.
Mas tudo estava valendo, o que importava era a participação
e o contato entre todos. Para finalizar, aconteceu uma passeata
com todos os participantes apresentando seus instrumentos
pelas ruas estreitas do Pelô.
As palestras
A primeira palestra foi sobre a fotografia no design, basicamente
dirigida à programação visual. A fotógrafa
jornalista Rosa Berardo demonstrou como a criação
de conceitos através da manipulação das
imagens é fundamental para transmitir a informação
desejada. Com apresentação de slides mostrou
como a fotografia é um recorte da realidade, e o enquadramento
dado pelo fotógrafo permite desenvolver seu enfoque
político daquilo que está clicando. Com a mudança
de ângulo de enquadramento, podemos mudar o valor do
objeto. Ela entrou na questão psicológica da
imagem, através do inconsciente coletivo de Jung, pois
o sistema de codificação depende do observador
e do que ele está querendo receber.
Apresentou também um trabalho feito com os índios
do Alto Xingú, na Amazônia, em que fotografou
a influência da cultura branca na cultura local, descaracterizando
a tradição indígena. Rafic Farah expôs
seu portfólio fazendo comentários sobre o design
gráfico causando alvoroço entre os presentes
ao tocar em pontos polêmicos. Explicou com detalhes
como desenvolveu cada trabalho seu, deixando em evidência
sua preferência pela simplicidade na apresentação
de um projeto e a necessidade do designer procurar sempre
o dono da empresa ao se relacionar com o cliente. Deixou claro
também um gosto particular pelo uso de imagem de vaginas
em seus trabalhos motivo pelo qual foram recusados alguns
de seus projetos.
Em uma apresentação bem humorada e algumas
gafes politicamente incorretas, Luli Radfahrer apresentou
a palestra sobre como não ficar milionário com
produção de websites, onde mostrou o que não
se deve fazer quando estiver desenvolvendo uma página
da web. Foi enfático em relação a apresentar
apenas idéias relevantes, não "encher lingüiça".
É necessário ter diferenciação
em relação aos outros sites, com seriedade,
diferente de ser sério. Para isto deve-se saber qual
o público alvo, utilizando-se uma pesquisa de mercado.
Resumindo, os itens mais importantes, segundo Luli, foram:
- unicidade;
- impacto;
- inovação;
- interface e
- conteúdo.
Numa palestra esclarecedora e bem montada, Manoel Ernesto
Hernandez Acosta demonstrou como o designer pode trabalhar
com o artesanato, deixando bem claro a diferenciação
entre arte, artesanato e design. O palestrante fez um apanhado
histórico, desde a década de 60, quando começou
a desenvolver um trabalho na Colômbia resgatando a cultura
artesanal daquele país. Na década de 70 trabalhou
também com design têxtil voltado para cultura
regional.
Como o designer pode trabalhar com o artesanato? Classificando
como produção única (objeto de arte),
produção repetida (artesanato) e produção
em série (industrial), podemos entender que o artesanato
pode recorrer ao design tanto na parte de pesquisa histórica
e cultural, como também novas tecnologias, materiais
e processos, que podem ajudar na execução dos
trabalhos, sem que sejam produzidos em série. Ele já
trabalha em sistema de parceria entre a universidade/Sebrae/artesão
de forma que os estudantes, vinculados a uma empresa Junior,
possam prestar consultoria aos artesãos, auxiliando
ambos os lados.
Ana Beatriz S. Factum, uma arquiteta apresentou a palestra
sobre Design em jóias na Bahia. Através de slides
mostrou o trabalho desenvolvido pelos seus alunos, que foram
premiados em diversos concursos estaduais. Também utiliza-se
de pesquisa cultural para criar jóias temáticas,
com base no desenho de formas que remetam à história
da Bahia e seus costumes. Os renderings baseados nas formas
de objetos utilizados em cerimoniais de candomblé e
festas de orixás, são inspirações
para a construção das jóias, que foram
produzidas em metais nobres acompanhados por pedras preciosas
e semipreciosas. Todos os trabalhos foram comprados por fabricantes
de jóias e os alunos contratados imediatamente, alguns
foram até "exportados". Mais informações
podem ser encontradas no site www.simonjoias.com.br
A oficina
O tema era Mergulho no Processo Criativo, onde Goya Lopes,
designer têxtil, demonstrou como desenvolve o seu trabalho
de criação de estampas. Baseado em referências
negras (africanas), busca consolidar um conceito, uma característica
que seja reconhecida em seu trabalho, como cores, traços,
composição. A partir de uma idéia, no
exemplo dela, a criação do Mercosul no início
da década de 90, desenvolveu estampas que formaram
uma trilogia, iniciando com o título A Energia, depois
A Abertura, e finalmente A Miscigenação. Para
seu trabalho, Goya estudou com profundidade o que é
o Mercosul, quais os motivos que levaram a acontecer, como
aconteceu e o que acarretou o fim das barreiras alfandegárias
na América do Sul. Sem perder a referência em
cores e traços africanos, ela criou as três estampas
que através de sua explicação é
possível compreender a idéia. Esta compreensão
cativa o observador, pois cria um vínculo entre este
e a designer. A partir deste contato, é possível
reconhecer o trabalho de Goya em outros locais, como encontramos
em mesas de restaurantes, sem que soubéssemos antecipadamente,
apenas pela observação dos traços e cores,
concluímos que eram toalhas criadas por Goya Lopes.
Esta é uma prova que a designer conseguiu criar uma
identidade própria, que se tornou uma característica
marcante do seu trabalho.
O
nosso trabalho na oficina no primeiro dia foi, a partir dos
mesmos títulos utilizados por ela, criar estampas modulares
imaginando uma trilogia. Poderiam ser utilizadas as técnicas
de lápis de cera, lápis de cor e canetas hidrográficas.
Os primeiros roughs foram feitos em papel manteiga A2, passados
depois para papel sulfite A3. No segundo dia da oficina, foi
feita uma composição utilizando todos os desenhos
feitos individualmente. Para isso a convivência coletiva
foi fundamental, pois através da discussão entre
todos os participantes foi surgindo a forma da composição.
Como cada desenho foi feito por uma cabeça, tentar
colocar diversas idéias diferentes para compor uma
só é uma tarefa difícil, já que
é necessário controlar a vaidade de cada um,
através de um processo empírico, em que cada
um poderia alterar a posição dos desenhos, desde
que tivesse acordo entre todos. Uma tarefa que durou mais
de duas horas de discussões. Finalmente terminada a
composição, o trabalho definitivo possuía
um equilíbrio entre as formas e cores, e que segundo
Goya, atingiu o objetivo da oficina.
As festas
Talvez tenha sido o ponto mais alto do encontro, ou melhor,
onde havia o maior quorum. Na segunda feira, logo após
a repentina, um breve passeio pelo Pelourinho terminou no
ensaio do Olodum Mirim, que realmente mexe com a alma de qualquer
um. O som produzido pela bateria impressiona, o sincronismo
e o ritmo são impossíveis de serem desprezados.
Aliás, batuque no Pelô é 24 horas por
dia. Somado a toda inspiração negra, foi o nosso
primeiro encontro com diversas delegações, como
por exemplo, Brasília, Pará, Curitiba, Bauru,
Rio de Janeiro, Ilhéus, e outras faculdades de São
Paulo. Na terça feira, um forrogode em uma danceteria
não terminou antes das 5 horas da manhã. Muita
animação, apesar da banda não agradar.
A quarta feira teve seu encerramento numa danceteria chamada
Rock in Rio Café, que prometia ser uma noite de funk,
porém rolou só um certo pop dançante.
A casa lotada, foi o ponto alto da festa, mas os preços
exorbitantes (latinha de cerveja R$ 3,00) impediam qualquer
exagero etílico. A quinta foi coroada com uma festa
de máscaras no Farol da Barra, numa danceteria nas
margens da praia, num visual paradisíaco, com o som
de bate estaca (dance) a noite inteira. As máscaras
utilizadas haviam sido produzidas pelos próprios participantes
do NDesign em uma repentina na Praça Castro Alves.
Na sexta no Museu da Ciência e Tecnologia, dois shows
de bandas locais fizeram a festa daqueles que agüentaram
esperar mais de 3 horas de atraso. Uma banda Rock'n roll e
outra de reggae animaram os resistentes estudantes. A grande
maioria dos participantes do N, entretanto, foram a um outro
bar do outro lado da rua, que parecia estar mais animado e
não havia atrasos.
Infelizmente o sábado foi marcado pela ressaca, pois
não houve os eventos marcados (mesas redondas e plenária),
nem a festa de encerramento. Comparecemos ao MCT, mas chegamos
quando o palco estava sendo desmontado, e praticamente nenhum
estudante por perto.
As reuniões do Conselho
As reuniões do Cone com as Secretarias e os representantes
das faculdades aconteciam todos os dias, mas o ponto alto
aconteceu na 6ª feira quando foi feita a votação
para o próximo NDesign. Nas reuniões anteriores
só duas faculdades tinham apresentado propostas para
sediar o N do ano que vem: Unesp de Bauru e UFPE de Recife.
Bauru mostrou ter melhor organização, porém
Recife apresentou melhor conteúdo. Sua proposta baseia-se
na idéia de reunir sugestões de todas as faculdades
durante o ano e elaborar o N a partir da condensação
dessas idéias. Seria então um N feito por todos
nós, apontando os erros dos Ns anteriores, assimilando
os acertos e apresentando novas idéias.
A votação foi apertada. Eram 21 representantes
de faculdades de todo o Brasil, e Recife acabou levando por
11 votos a 10. Foi nessa reunião também que
houve as mudanças de gestão. A Unesp de Bauru
que presidia a Secretaria Nacional passou a bola para o pessoal
de Tuiuti, Curitiba-PR, que assumiu a presidência e
deve vigorar até o próximo N. Estava presente
nesta reunião Ivens Fontoura, presidente da Aladi (Associação
Latino Americana de Design) que leciona em Tuiuti e se comprometeu
a apoiar a nova presidência. As Regionais também
fizeram suas mudanças e a nossa regional SP agora está
nas mãos de Marina Chacur, da Faap e Elis da Unesp,
de Bauru.
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Marcos
(1968) é técnico em eletrônica
e cursa atualmente 3º ano de Desenho Industrial
na FDI Faculdade de Desenho Industrial
de São Paulo (Projeto do Produto). |
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Fábio
nasceu em São Paulo/SP, no ano de 1957.
Cursa o 3º ano de Desenho Industrial na FDI
Faculdade de Desenho Industrial de São Paulo (Programação
Visual), trabalhou com design gráfico na Linker
Promoções além de projetos eventuais. |
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