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   Comunicação

Roxo com bolinhas amarelas

Márcia Okida
Setembro 2002

As cores possuem uma linguagem própria? Qual a importância das cores em um material impresso? Como devo escolher a paleta cromática de um projeto gráfico? A má escolha de cores pode prejudicar a aceitação de um material impresso?

   

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As cores desempenham um papel essencial no design gráfico de qualquer impresso"

 

Essas, entre tantas outras perguntas relacionadas ao universo das cores, fazem parte do dia a dia de muitos designers, artistas e criadores de um modo geral. É até bom que esses questionamentos existam, pois, se a pergunta existe significa que a preocupação com um perfeito resultado final é constante. Triste é quando encontramos profissionais que dizem desconhecer essa importância e escolhem as cores levando em conta apenas o seu senso estético. Pior ainda quando editores de arte – ou não – de uma publicação dizem desconhecer, ou nem existir, o critério usado na escolha de cores de sua revista.

Essa falta de informação e conhecimento da linguagem das cores não deveria existir entre profissionais ou estudantes de qualquer área relacionada a imagem, arte, criatividade. Para acabar com isso, um bom começo é responder as questões que iniciaram esse artigo.

As cores possuem uma linguagem própria?

Sim. Na verdade existem várias linguagens. As cores podem transmitir informações através de várias associações como: psicológica, fisiológica e sinestésica. Muitas dessas influências cromáticas são universais, outras estão relacionadas diretamente com a história pessoal, lembranças da infância, inconsciente coletivo etc.

A linguagem psicológica ocorre devido a relação entre uma cor e uma sensação, sentimento, lembrança etc. Podemos sentir calma ao ver a cor azul, dar a sensação de perigo ao usar a cor vermelha ou sentir raiva de uma determinada tonalidade.

A história pessoal, lembranças de infância ou a preferência por uma cor normalmente não são levadas em conta na criação de um projeto gráfico ou design de alguma peça, já que somente causam influência sobre a pessoa em questão. Exemplo: uma pessoa pode sentir-se nervosa ao ver a cor azul – cor que normalmente transmite paz, tranqüilidade, calma – por ter sofrido algum acidente e a cor azul estava presente naquele momento em alguma roupa, objeto etc causando assim uma associação ruim com essa cor. Como essa relação é totalmente pessoal, não pode ser levada em conta no momento de uma criação.

Já as influências do inconsciente coletivo de uma sociedade podem e devem influenciar no momento da escolha cromática de um projeto. Exemplo: os judeus, de um modo geral, não gostam da cor vermelha por estar diretamente associada ao nazismo. Esse repudio por essa cor é transmitido de geração à geração de um modo inconsciente.

Outro exemplo: a relação que a maioria das pessoas faz entre as cores pastéis e infância está diretamente ligada ao fato de que os jovens e adultos de hoje, quando crianças assitiram desenhos como: Branca de Neve, Cinderela, A Bela Adormecida, onde as fadas – meigas e boas – sempre foram em tons de rosa, azul, verde, branco e as bruxas – más e repugnantes – vermelhas, roxas, pretas.

 
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O MAIS DIFÍCIL, EM RELAÇÃO A ESCOLHA DE CORES, É DEIXAR O GOSTO PESSOAL E O NOSSO SENSO ESTÉTICO PARTICULAR DE LADO"
   
   

Qual a importância das cores em um material impresso?

A cores desempenham um papel essencial no design gráfico de qualquer impresso. A função editorial da cor deveria ser levada mais a sério e usada adequadamente pela maioria dos designers gráficos. Entre os vários pontos que deveriam ser observados podemos destacar dois, são eles: a relação da cor com o tema abordado e a ordem de leitura desejada naquela página.

A relação entre tema e cor é importante porque ajuda a construir melhor a mensagem no cérebro. Completa um conjunto de informações adicionando associações inconscientes que podem aumentar ou diminuir o entendimento, a assimilação e até manipular as sensações e reações dos leitores. Quanto a relação entre a ordem de leitura desejada, a cor pode ser responsável pela escolha de qual matéria será lida primeiro, qual imagem será mais bem recebida e memorizada etc.

Como devo escolher a paleta cromática
de um projeto gráfico?

Muitos acham que se escolhe as cores simplesmente pelo gosto pessoal ou combinação estética, mas não, essa escolha deveria ser muito mais criteriosa. Deve-se levar em consideração vários pontos. Alguns deles são: perfil do público alvo, objetivo da publicação no mercado, projeto editorial da publicação, entre outros, para então escolher cores que tenham associações psicológicas, fisiológicas ou sinestésicas de acordo com os objetivos desejados.

A escolha incorreta de cores pode prejudicar
a aceitação de um material impresso?

Com certeza. Se essa escolha não estiver adequada os pontos citados acima a publicação pode ter um resultado final prejudicado, pois, podemos estar usando uma cor mais característica de um público da terceira-idade sendo que a revista é para jovens. Este é um exemplo simples e básico.

Sem pensar e pesquisar os objetivos da publicação, as cores que escolhemos poderão estar completamente fora de sintonia com a situação desejada no mercado e, com isso, a revista ter pouca aceitação. Pior ainda se o projeto editorial estiver indo para um lado e as cores para o outro. O gráfico e o editorial devem andar sempre de mãos dadas e as cores têm um papel fundamental nesse momento ou alguém já imaginou um projeto editorial direcionado a temas políticos e sociais com um design vermelho e roxo?

O mais difícil, em relação a escolha de cores, é deixar o gosto pessoal e o nosso senso estético particular de lado porque se o resultado de uma pesquisa direcionar a criação para o uso do roxo com bolinhas amarelas, é melhor usar, mesmo que ache terrível.

 

Márcia Okida (1967) é designer gráfico, membro da SND – Society for News Design – e professora de Design Gráfico e Editoração Eletrônica na Faculdade de Artes e Comunicação (FaAC) da Universidade Santa Cecília (Unisanta).
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