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   OPINIÃO 

Nova marca da ADG: identidade ou imagem

Guilheme Sebastiany de Toledo
Dezembro 2001

"Em muitos aspectos a ADG realmente conseguiu impulsionar o desenvolvimento e reconhecimento do design no país"

 

Nas últimas duas semanas de novembro, nossa lista de discussão foi povoada por uma grande quantidade de críticas e mensagens de reprovação a respeito do concurso para nova marca da ADG. Enquanto a maioria dos participantes criticava o resultado, alguns se detinham à criticar o concurso e a ADG em si. Este artigo, baseado nas opiniões colocadas pelos membros da lista, não critica ou defende o resultado do concurso, mas faz uma análise de suas repercussões.

Para muitos de nós, associados ou não da ADG, a entidade é costumeiramente mencionada como uma poderosa e restrita "panelinha". Mesmo admirando e reconhecendo a qualidade individual dos profissionais envolvidos, a idéia que muitos fazem dos objetivos da instituição é que seja voltada à promover e atender interesses "do alto clero", mais do que defender o reconhecimento da profissão.

Em muitos aspectos a ADG realmente conseguiu impulsionar o desenvolvimento e reconhecimento do design no país. As publicações promovidas, patrocinadas ou apoiadas pela instituição contribuíram para a geração de uma crescente bibliografia nacional, mostrando a muitas editoras o potencial comercial de livros que tratassem deste nosso tema tão desconhecido às demais pessoas: o design. Algumas das publicações, como o "Kit Prática Profissional", entre outras, não apenas geraram poder de negociação com clientes, como estimularam a profissionalização de muitos que estavam no mercado por acidente. As bienais, com grande visitação pública, têm contribuído não apenas para a popularização do design, colocando em evidência o que há de qualidade em nosso cotidiano, como têm também mostrado aos empresários brasileiros que nossos profissionais são tão bons quanto, e muitas vezes melhores, que os escritórios internacionais, na medida em que estamos em contato direto com a cultura nacional, e por conseqüência com o consumidor.

Mas a ADG, em seu processo de estruturação e definição, cometeu e vem cometendo uma série de enganos, principalmente no que concerne a abordagem e divulgação de suas ações perante os não-filiados. Toda nova instituição de classe, seja ela de livre associação ou não, é vista inicialmente com desconfiança, começando inevitavelmente com um saldo negativo. Mudar esta perspectiva através de suas ações, principalmente para atrair novos filiados e se legitimar como representativa de sua classe é, ou deveria ser, uma preocupação constante em qualquer entidade, especialmente uma cujo objeto de trabalho cotidiano de seus associados está sempre relacionado à comunicação da informação e qualidade da imagem.

Ainda assim, as críticas às ações da ADG são, coincidentemente, ou não, sempre similares. Nas bienais, a instituição falha ao criar dois catálogos separados. Enquanto o livro da Mostra Institucional é costumeiramente criticado por ser um canal completamente aberto aos associados, que, independente da qualidade dos trabalhos, tem direito ao seu espaço garantido, o livro da Mostra Seletiva, supostamente um veículo aberto aos não-filiados, é criticado por ter grande parte de seu espaço ocupado por trabalhos de membros da ADG. Desta forma, quando um trabalho é recusado para a mostra seletiva, após pagar onerosa taxa de inscrição, é natural e compreensível, que o autor, em lugar de refletir sobre a qualidade de seu projeto, acuse a instituição de preferencialismo. Nestas circunstâncias, pouco a ADG pode fazer para preservar sua imagem.

   
" As restrições impostas à participação foram
vistas como meio de atrair novos membros"
   
   

Antes da criação de boletins informativos on-line abertos também aos não associados, as informações sobre eventos eram disponibilizadas quase que somente nas malas diretas dos associados. Por este descuido, boatos de que a ADG "intencionalmente" não divulgava abertamente os concursos dos quais tinha conhecimento, espalharam-se rapidamente, principalmente quando os resultados eram publicados nas revistas "especializadas". Boatos ou não, acontecimentos desta natureza levaram colegas a admitir terem se filiado somente para ter acesso ao material de divulgação.

Após grandes progressos e aperfeiçoamentos, principalmente com a disponibilização de filiação a custos mais reduzidos para estudantes e recém formados, a ADG, numa tentativa que, acredito ter origem maior no desejo de melhorar sua desgastada imagem, do que na real necessidade de renovar sua marca, decidiu promover um concurso para sua nova Identidade Institucional, mas novamente errou por não saber ver o real problema.

Começando pela divulgação do concurso, as restrições impostas à participação foram vistas, senão de outra forma, como meio de atrair novos membros, que para participarem, eram obrigados, primeiro, a se filiarem. Com uma premiação, que claramente era monetariamente insignificante, a vaidade e o desejo de uma projeção profissional foram os reais atrativos que levaram muitos a participarem, e talvez, alguns a se filiarem. No entanto, para muitos não-filiados, a proposta do concurso semi-aberto apenas serviu para reforçar a péssima imagem que a instituição carrega.

Neste sentido o concurso em si foi uma grande sucessão de erros estratégicos, todos levando a depredação da imagem da instituição. Primeiro foi a proposta do concurso semi-aberto, que levou muitos a acreditarem que o resultado poderia estar predeterminado. Depois o adiamento da data, que demonstrou o baixo interesse inicial na participação e diminuiu a credibilidade do mesmo. A seguir veio o resultado. Decepcionante em vários aspectos, foi visto por muitos como a prova definitiva da falta de qualidade dos trabalhos dos filiados. Alguns, no desejo de encontrar justificativa para o resultado, apressaram-se a afirmar possíveis apadrinhamentos por parte dos jurados. A não divulgação do parecer do júri, apenas reforçou esta impressão. Por último, foi dado o golpe de misericórdia. A anulação do resultado foi interpretada como o mea-culpa da ADG, confirmando que ela mesma não aprovara os trabalhos.

O que posso concluir deste concurso, é que a ADG falhou. Não pelo resultado, que poderia ser discutido em suas bases fundamentais na medida em que o júri disponibilizasse seu parecer, mas por não compreender que o seu problema não está em sua marca. De qualquer forma, nova ou antiga, a Identidade da ADG não mudará enquanto sua imagem não mudar, não importando quantos concursos sejam feitos.

 

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Guilherme Sebastiany Martins de Toledo (1976) é designer e atualmente conclui o curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. É professor de design gráfico da FUPAM (fundação para Pesquisa Ambiental) e da Câmara de Arquitetos e Consultores. Venceu os concursos de design da PADO 2000, e do Símbolo Comemorativo dos 100 anos de Nascimento de José Lins do Rego, entre outras premiações.
 

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