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Análise |
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Análise  Cartaz
Magnolia
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Título original
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Magnolia
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País / ano
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EUA / 1999
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Dirigido e escrito
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Paul Thomas Anderson
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Com
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John C. Reilly
Tom Cruise
Mackey Julianne Moore
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Magnolia
Nome científico: Magnolia grandiflora da família
das Magnoliáceas (Magnoliaceae). Um gênero de
árvore que existe desde os tempos pré-históricos.
É tão antiga que, na China, o seu cultivo existe
há pelo menos 1.400 anos. Magnolia é também
o nome de uma rua no Vale de São Fernando, periferia
de Los Angeles. É também um aroma adocicado
usado em vários perfumes.
Suas folhas são brilhantes, lisas ou com uma leve
penugem, ovaladas e alternadas, que não caem no inverno.
A floração ocorre da primavera ao verão,
quando se recobre de grandes flores brancas, muito perfumadas,
em formato de taça. A flor da magnólia é
o elemento principal desse cartaz.
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Sinestesia da forma gráfica
A flor magnólia é o elemento principal desse
cartaz. É o que segura a visão. É o que
forma, identifica a composição, retendo nosso
olhar por mais tempo no foco central dessa imagem. O cartaz
possui uma composição centralizada, simétrica
e "quase" estática. Todo o sentido de leitura
consciente se faz verticalmente no centro exato do cartaz.
Inicia-se na pétala superior, com sua lateral iluminada
e sem imagem. Segue até o miolo da flor que está
envolvido por várias formas circulares, quebrando um
pouco sua leitura estática, indo para o encontro de
algumas pétalas inferiores. Chega ao nome do filme
e aos créditos, terminando em uma pequena camada de
céu azul. É uma leitura simples que facilita
a fixação na memória das pessoas da imagem
com a associação do nome do filme.
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Sinestesia do tipo
Magnolia é escrito com tipos de fácil leitura
e delicados como a imagem da flor pede, sendo até um
pouco similares ao formato arredondado das pétalas.
As letras são serifadas, arredondadas e estão
todas em caixa baixa simbolizando feminilidade e fragilidade.
Está escrito em branco porque, analisando o contraste
entre figura e fundo, essa seria a cor que, além de
dar mais legibilidade ao nome, traria mais a força
da luz ao cartaz.
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Leitura cromática
O conjunto cromático com predominância de cores
frias (preto, um leve tom amarelado, tons de terra, um leve
toque de verde e azul), dão uma característica
de sobriedade, tristeza, calma, sentimentos e sensações
depressivas mas que tem na luminosidade alcançada nas
pétalas da flor uma espécie de força,
de energia característica dos tons amarelados associados
também com nervosismo e inquietação.
Sentimentos estes presentes no filme.
Existe, também, uma ponta de esperança representada
por pequenos pontos verdes existentes um de cada lado do cartaz
as folhas.
O fundo negro, um negro esverdeado, faz com que a luz que
brota dessa flor seja mais forte, mais intensa, ajudando a
quebrar o tom introspectivo do cartaz. Toda essa tonalidade
escura do fundo está sustentada por uma leve camada
de céu azul. É como se uma cor estivesse indo
de encontro a outra, tentando ocupar o espaço de um
outro tom. Seria o preto tentando se transformar em um céu
azul. Simbolicamente seria a calma, a tranqüilidade que
busca sustentar um clima de obscuridade, tristeza e melancolia
envoltos em uma pequena esperança (verde) e força
(amarelo), esmaecido da luminosidade da flor.
Aqui já é fácil identificar vários
elementos em oposição como a obscuridade e a
luz, a esperança e a melancolia, o vazio do negro e
o mundo do céu azul. Elementos que se opõem
mas fazem parte de uma mesmo ciclo, se afastam, mas também
se encontram. Essa é uma característica que
poderá ser observada em todo o cartaz.
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O subliminar a gestalt a flor
A flor possui em suas pétalas várias imagens
de algumas das personagens do filme. Em duas pétalas
existem duas pessoas. No canto superior direito um senhor
deitado com um jovem passando a mão sobre a sua cabeça
amparo, carência, conforto. Na diagonal abaixo
um casal se preparando para um beijo romance, carinho,
dúvida (eles estão quase se beijando; se o beijo
vai acontecer, não se sabe).
Todas as outras pessoas aparecem sozinhas e com um olhar
levemente desviado do observador, com exceção
de uma personagem na pétala mais escura, sombria da
flor e com um olhar um tanto quanto desafiador bem
alí entre a petála com o senhor sendo amparado
e um garoto solidão, angústia, busca,
desafio, medo. Além disso as pessoas ali retratadas
são bem distintas.
Temos, iniciando da pétala superior para a direita:
(1) um garoto, (2) um homem jovem envolto em
uma forte sombra, (3) um senhor deitado com um jovem
o amparando, (4) um jovem e bela mulher, (5)
um jovem casal quase se beijando, (6) um senhor pequeno
e preso entre duas pétalas e por fim, (7) um
outro homem de meia idade, entre o jovem (1) e o senhor (6).
Todas essas pétalas, essas personagens, estão
"presas" no miolo dessa flor, fazendo parte de um
único ciclo, uma única vida que é a flor.
O que podemos dizer da linguagem subliminar dessa imagem?
Que Magnolia trata-se de um filme onde pessoas diferentes
e sozinhas acabam se encontrando em um mesmo ciclo, fazem
parte de uma mesma rotina e que de algum modo se encontram,
se aproximam nessa história, possuem talvez uma mesma
busca.
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A espiral patafísica
Essa rotina, esse ciclo, fica fácil de ser percebido
notando o que existe no centro dessa flor. Voltando ao início
do texto onde existe uma explicação de como
é a árvore da magnólia, a descrição
feita para as pétalas dessa flor é que ela se
parece com uma taça. Uma taça pode estar vazia
ou não quando possui dentro dela alguma espécie
de bebida e é isso que podemos ver no centro dessa
flor, algum tipo de líquido.
Existem várias formas circulares em expansão
lembrando água, espiral, como quando uma pedra é
jogada em um rio e com isso todo a sua movimentação
se altera durante alguns instantes causando uma mudança
de rumo para depois voltarem ao normal. Podem lembrar também
um pingo de chuva caindo em alguma poça d'água,
o que sugere uma mudança também de tempo, de
clima, como uma tempestade para depois retornar o céu
azul, relação essa que também pode ser
feita com o fundo negro e o céu azul abaixo.
De qualquer forma ou com qualquer imagem que possa ser associada
a essas formas circulares, fica clara a relação
com ciclos, mudanças, tempo, água, coisas que
sempre ocorrem ao acaso. Completando assim a história
visual dessas pessoas que vivem cada uma em suas pétalas
mas que fazem parte dessa mesma espiral, desse mesmo ciclo
vital e podem se encontrar devido a mudanças de tempo,
ritmo da vida e das espirais que os cercam.
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Simbologia um sapo, um céu
A principal linha de leitura de qualquer imagem é
sempre do canto superior esquerdo ao canto inferior direito.
Isso faz com que, nesse cartaz, uma imagem mínima,
solitária vá direto ao nosso cérebro
e fique lá gravada esperando que exista um sentido
para ela.
E que imagem é essa? Um sapo, negro, caindo em um
céu azul, grudado pela pata no fundo também
negro de todo o cartaz. Esse sapo, por ser negro, se confunde
com o fundo, faz parte do fundo. Ou melhor, ele é o
fundo. Ele é negro e está grudado ao restante
do cartaz como se puxasse toda aquela informação
de imagens para dentro de um novo mundo, colorido, de céu
azul, nuvens brancas, sol brilhando, uma nova vida.
Ele é mínimo, quase nem notamos sua presença,
mas com certeza, é a parte mais forte e simbólica
desse conjunto gráfico.
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Não é o tamanho ou a força da cor, luz,
forma de uma imagem que faz dela a principal fonte de informação,
mas sim o modo como essa imagem é usada e onde. A flor
chama a atenção principal, faz com que a observemos
e prestemos atenção nos seus inúmeros
detalhes, personagens, miolo, a água do meio, mas,
enquanto isso, na nossa visão periférica, ou
seja, aquela que não é o nosso foco principal,
está absorvendo todas as outras demais informações,
nesse caso, um sapo levando consigo, para baixo, para o azul,
para a vida, tudo aquilo que a nossa visão principal
está assimilando.
Isso normalmente é proposital. Enquanto forçamos
a visualização para um determinado ponto, estamos
mandando pela visão periférica outras informações
tão necessárias quanto a primeira e às
vezes mais importante, simbolicamente, que a imagem principal.
Ou seja, esse simples e pequeno sapo, tem a força e
a capacidade de mover, alterar tudo aquilo que o precede,
já que tudo está preso a sua pata e se move
junto com ele.
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O que isso quer dizer? O que tem um sapo a ver com a história?
Para obter essas respostas, uma dica: vá ver o filme
se ainda não viu. Se já viu, essa relação
está clara como as ondas circulares do miolo dessa
flor. Então coloque o som de Aimee Mann do ótimo
CD da trilha sonora de Magnolia Momentum, faixa 2
que estou escutando nesse momento, e reviva essa excelente
obra da sétima arte.
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Márcia
Okida (1967) é designer gráfico, membro da
SND Society for News Design e professora
de Design Gráfico e Editoração Eletrônica na Faculdade
de Artes e Comunicação (FaAC) da Universidade
Santa Cecília (Unisanta).
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