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Magnolia

Márcia Okida
Setembro 2002

 
Título original
Magnolia
País / ano
EUA / 1999
Dirigido e escrito
Paul Thomas Anderson
Com
John C. Reilly
Tom Cruise
Mackey Julianne Moore

 

Magnolia

Nome científico: Magnolia grandiflora da família das Magnoliáceas (Magnoliaceae). Um gênero de árvore que existe desde os tempos pré-históricos. É tão antiga que, na China, o seu cultivo existe há pelo menos 1.400 anos. Magnolia é também o nome de uma rua no Vale de São Fernando, periferia de Los Angeles. É também um aroma adocicado usado em vários perfumes.

Suas folhas são brilhantes, lisas ou com uma leve penugem, ovaladas e alternadas, que não caem no inverno. A floração ocorre da primavera ao verão, quando se recobre de grandes flores brancas, muito perfumadas, em formato de taça. A flor da magnólia é o elemento principal desse cartaz.


 

Sinestesia da forma gráfica

A flor magnólia é o elemento principal desse cartaz. É o que segura a visão. É o que forma, identifica a composição, retendo nosso olhar por mais tempo no foco central dessa imagem. O cartaz possui uma composição centralizada, simétrica e "quase" estática. Todo o sentido de leitura consciente se faz verticalmente no centro exato do cartaz.

Inicia-se na pétala superior, com sua lateral iluminada e sem imagem. Segue até o miolo da flor que está envolvido por várias formas circulares, quebrando um pouco sua leitura estática, indo para o encontro de algumas pétalas inferiores. Chega ao nome do filme e aos créditos, terminando em uma pequena camada de céu azul. É uma leitura simples que facilita a fixação na memória das pessoas da imagem com a associação do nome do filme.


 

Sinestesia do tipo

Magnolia é escrito com tipos de fácil leitura e delicados como a imagem da flor pede, sendo até um pouco similares ao formato arredondado das pétalas. As letras são serifadas, arredondadas e estão todas em caixa baixa simbolizando feminilidade e fragilidade. Está escrito em branco porque, analisando o contraste entre figura e fundo, essa seria a cor que, além de dar mais legibilidade ao nome, traria mais a força da luz ao cartaz.


 

Leitura cromática

O conjunto cromático com predominância de cores frias (preto, um leve tom amarelado, tons de terra, um leve toque de verde e azul), dão uma característica de sobriedade, tristeza, calma, sentimentos e sensações depressivas mas que tem na luminosidade alcançada nas pétalas da flor uma espécie de força, de energia característica dos tons amarelados associados também com nervosismo e inquietação. Sentimentos estes presentes no filme.

Existe, também, uma ponta de esperança representada por pequenos pontos verdes existentes um de cada lado do cartaz – as folhas.
O fundo negro, um negro esverdeado, faz com que a luz que brota dessa flor seja mais forte, mais intensa, ajudando a quebrar o tom introspectivo do cartaz. Toda essa tonalidade escura do fundo está sustentada por uma leve camada de céu azul. É como se uma cor estivesse indo de encontro a outra, tentando ocupar o espaço de um outro tom. Seria o preto tentando se transformar em um céu azul. Simbolicamente seria a calma, a tranqüilidade que busca sustentar um clima de obscuridade, tristeza e melancolia envoltos em uma pequena esperança (verde) e força (amarelo), esmaecido da luminosidade da flor.

Aqui já é fácil identificar vários elementos em oposição como a obscuridade e a luz, a esperança e a melancolia, o vazio do negro e o mundo do céu azul. Elementos que se opõem mas fazem parte de uma mesmo ciclo, se afastam, mas também se encontram. Essa é uma característica que poderá ser observada em todo o cartaz.


 

O subliminar – a gestalt – a flor

A flor possui em suas pétalas várias imagens de algumas das personagens do filme. Em duas pétalas existem duas pessoas. No canto superior direito um senhor deitado com um jovem passando a mão sobre a sua cabeça – amparo, carência, conforto. Na diagonal abaixo um casal se preparando para um beijo – romance, carinho, dúvida (eles estão quase se beijando; se o beijo vai acontecer, não se sabe).

Todas as outras pessoas aparecem sozinhas e com um olhar levemente desviado do observador, com exceção de uma personagem na pétala mais escura, sombria da flor e com um olhar um tanto quanto desafiador – bem alí entre a petála com o senhor sendo amparado e um garoto – solidão, angústia, busca, desafio, medo. Além disso as pessoas ali retratadas são bem distintas.

Temos, iniciando da pétala superior para a direita:
(1) um garoto, (2) um homem jovem envolto em uma forte sombra, (3) um senhor deitado com um jovem o amparando, (4) um jovem e bela mulher, (5) um jovem casal quase se beijando, (6) um senhor pequeno e preso entre duas pétalas e por fim, (7) um outro homem de meia idade, entre o jovem (1) e o senhor (6).

Todas essas pétalas, essas personagens, estão "presas" no miolo dessa flor, fazendo parte de um único ciclo, uma única vida que é a flor. O que podemos dizer da linguagem subliminar dessa imagem? Que Magnolia trata-se de um filme onde pessoas diferentes e sozinhas acabam se encontrando em um mesmo ciclo, fazem parte de uma mesma rotina e que de algum modo se encontram, se aproximam nessa história, possuem talvez uma mesma busca.


 

A espiral patafísica

Essa rotina, esse ciclo, fica fácil de ser percebido notando o que existe no centro dessa flor. Voltando ao início do texto onde existe uma explicação de como é a árvore da magnólia, a descrição feita para as pétalas dessa flor é que ela se parece com uma taça. Uma taça pode estar vazia ou não quando possui dentro dela alguma espécie de bebida e é isso que podemos ver no centro dessa flor, algum tipo de líquido.

Existem várias formas circulares em expansão lembrando água, espiral, como quando uma pedra é jogada em um rio e com isso todo a sua movimentação se altera durante alguns instantes causando uma mudança de rumo para depois voltarem ao normal. Podem lembrar também um pingo de chuva caindo em alguma poça d'água, o que sugere uma mudança também de tempo, de clima, como uma tempestade para depois retornar o céu azul, relação essa que também pode ser feita com o fundo negro e o céu azul abaixo.

De qualquer forma ou com qualquer imagem que possa ser associada a essas formas circulares, fica clara a relação com ciclos, mudanças, tempo, água, coisas que sempre ocorrem ao acaso. Completando assim a história visual dessas pessoas que vivem cada uma em suas pétalas mas que fazem parte dessa mesma espiral, desse mesmo ciclo vital e podem se encontrar devido a mudanças de tempo, ritmo da vida e das espirais que os cercam.


 

Simbologia – um sapo, um céu

A principal linha de leitura de qualquer imagem é sempre do canto superior esquerdo ao canto inferior direito. Isso faz com que, nesse cartaz, uma imagem mínima, solitária vá direto ao nosso cérebro e fique lá gravada esperando que exista um sentido para ela.

E que imagem é essa? Um sapo, negro, caindo em um céu azul, grudado pela pata no fundo também negro de todo o cartaz. Esse sapo, por ser negro, se confunde com o fundo, faz parte do fundo. Ou melhor, ele é o fundo. Ele é negro e está grudado ao restante do cartaz como se puxasse toda aquela informação de imagens para dentro de um novo mundo, colorido, de céu azul, nuvens brancas, sol brilhando, uma nova vida.

Ele é mínimo, quase nem notamos sua presença, mas com certeza, é a parte mais forte e simbólica desse conjunto gráfico.


 

Não é o tamanho ou a força da cor, luz, forma de uma imagem que faz dela a principal fonte de informação, mas sim o modo como essa imagem é usada e onde. A flor chama a atenção principal, faz com que a observemos e prestemos atenção nos seus inúmeros detalhes, personagens, miolo, a água do meio, mas, enquanto isso, na nossa visão periférica, ou seja, aquela que não é o nosso foco principal, está absorvendo todas as outras demais informações, nesse caso, um sapo levando consigo, para baixo, para o azul, para a vida, tudo aquilo que a nossa visão principal está assimilando.

Isso normalmente é proposital. Enquanto forçamos a visualização para um determinado ponto, estamos mandando pela visão periférica outras informações tão necessárias quanto a primeira e às vezes mais importante, simbolicamente, que a imagem principal.
Ou seja, esse simples e pequeno sapo, tem a força e a capacidade de mover, alterar tudo aquilo que o precede, já que tudo está preso a sua pata e se move junto com ele.


 

 

O que isso quer dizer? O que tem um sapo a ver com a história? Para obter essas respostas, uma dica: vá ver o filme se ainda não viu. Se já viu, essa relação está clara como as ondas circulares do miolo dessa flor. Então coloque o som de Aimee Mann do ótimo CD da trilha sonora de Magnolia – Momentum, faixa 2 – que estou escutando nesse momento, e reviva essa excelente obra da sétima arte.

 

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Márcia Okida (1967) é designer gráfico, membro da SND – Society for News Design – e professora de Design Gráfico e Editoração Eletrônica na Faculdade de Artes e Comunicação (FaAC) da Universidade Santa Cecília (Unisanta).
 

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