"Quem
tem a resposta antes da pergunta não trabalha com design
mas sim com clichês"
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Claudio
Ferlauto (1944) é designer/arquiteto, crítico
de design, editor da seção Olhar Gráfico da revista
Abigraf. Tem dois livros sobre design: "O
Livro da Gráfica" editado pela Hamburg Donneley
e "O Tipo da Gráfica e outros Escritos",
da Edições Cachorro Louco, a venda na Livraria
Cultura em São Paulo. Dirige com Cristina Burger
o escritório QU4TRO Arquitetos. Vive e trabalha
em São Paulo.
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Na vida e na arte cada um decide seus caminhos fazendo escolhas
e tomando decisões. Para os designers as escolhas determinam
os "estilos" e o maior ou menor grau de personalização
de seu trabalho criativo. Para se ter um trabalho pessoal
é necessário colocar coisas pessoais trabalho,
ao contrário você utiliza a linguagem e as fórmulas
de outrem, estará fazendo um trabalho com o estilo
de outro. Assim se um ilustrador utiliza a linguagem do Seymour
Schwast, por exemplo, para construir uma carreira profissional
ao sul da última ilha dos Mares do Sul, não
está fazendo nada pessoal. Está apenas copiando
um outro artista. Na música você pode copiar
apenas alguns compassos sem ser considerado um plagiador.
Mas no design gráfico vemos pessoas se apropriando
de cores, do desenho, do jeito de usar a tipografia, dos enquadramentos,
dos cortes, sem se importar (pessoalmente) com isso, e tampouco
com o identificação de suas fontes. Quando flagrados
ou criticados se explicam afirmando que "fizeram uma
homenagem ao autor".
Para não cair tolamente nesta armadilha os designers
devem ter suas preferências cromáticas, tipográficas,
photoshópicas, fotográficas, técnicas
etc., para saber de onde estão partindo. E se o caso
não se adaptar a nenhuma de suas escolhas, saber que
podem fazer novas escolhas negando seus paradigmas ou confrontando
suas idéias com as novas necessidade e, portanto, com
novos modos de expressão. Escolhas não obliteram
a intuição nem a sensibilidade, que nunca devem
ser olvidadas no processo criativo. O fato de termos nossos
paradigmas não determina de antemão uma resposta
pronta para os problemas de design aos quais procuramos dar
uma resposta eficiente ou poética. Quem tem a resposta
antes da pergunta não trabalha com design mas sim com
clichês, e embora todo clichê carregue algo de
verdade, eles não respondem a totalidade dos problemas
criativos que enfrentamos na vida profissional.
Uma vez, tempos atrás escrevi que o norte do designer
é a cultura, hoje acrescento a sensibilidade. Ela nos
ajuda a identificar na realidade circundante a nossa palheta
de cores, o vernacular e popular que qualifica nossa tipografia,
o modo como o olho brasileiro se apropria dessa realidade
e do pastiche global que nos empurram olhos a dentro.Se não
retiramos da vida a matéria prima para nossos designs,
não serão os anuários americanos ou europeus
que nos ensinarão a fazer um design bem brasileiro.
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