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Corra Lola Corra

Márcia Okida
Agosto 2003

 
Título original
Lola Rennt
País / ano
Alemanha / 1998
Direção
Tom Tykwer
Com
Franka Potente (Lola)
Moritz Bleibtreu (Mani)

 

A história de uma mulher correndo... assim poderia ser definido Corra Lola Corra. Mas ele é muito mais que isso. O filme, de 90 minutos, possui exatos 60 minutos de correria divididos em trechos de 20 minutos cada que pretendem mostrar como as nossas decisões podem influenciar indiretamente, ou não, o mundo que nos rodeia.

Lola corre... para ajudar o namorado, Lola corre... para alcançar a felicidade, Lola corre... para encontar o pai, Lola corre... corre... E quando Lola corre ela muda destinos, causa fracassos ou sucessos tudo que acordo com suas mudanças de atitudes. Um filme alemão que mescla imagens em 35mm – quando Lola e seu namorado Mani aparecem – e de vídeo – o mundo real com uma imagem mais artificial. Com um roteiro maravilhoso e uma linguagem de câmera perfeita, vale correr muito e conferir.


 

Leitura geométrica

A geometrização desse cartaz é simples, usando uma construção básica com formas retangulares e de leitura totalmente verticalizada.


  Existem duas áreas visuais separadas pelo nome do filme. Na parte superior quatro retângulos distribuem imagens fragmentadas e abaixo, uma só imagem formada pelos pedaços das duas personagens. Você seria capaz de afirmar, com certeza, qual dois segura a arma? Essa dúvida e sensação de uma situação cíclica e quase uniforme faz parte da linguagem do filme.

Vale observar que a parte central do cartaz reforça a imagem das duas personagens centrais. Isso nos dá a idéia de um filme feito por fragmentos, que envolvam essas duas pessoas.


 

E Corra Lola Corra é exatamente isso, um filme que conta a mesma história três vezes só que com olhares diferentes, com imagens fragmentadas de acordo com cada novo roteiro.

São três pequenas histórias que mudam apenas por causa de decisões diferentes tomadas por Lola, no início de cada uma delas, mas todas com o mesmo objetivo que é o de ajudar o namorado. Transformando isso em imagens: três decisões de Lola = três retângulos (em vermelho), um objetivo (em azul) = um retângulo e como a decisão dela influência diretamente na vida dele, onde se fundem na parte de baixo (em verde).


 

Tipografia

Mescla a força e estabilidade do nome Lola – cheio, pesado, forte, reto e firme – com o movimento, a velocidade – Rennt em itálico. Para quem não viu o filme, Lola passa todo o tempo correndo e essa correria está aqui representada não somente pelo itálico, mas também pelos outros textos, ora alinhados a esquerda, ora a direita, e também na vertical dando movimentação a imagem, até agora, estática dos retângulos.


 

Linguagem cromática

Apesar de ser um cartaz quase monocromático, a pouca cor que tem ajuda nessa leitura de velocidade, ciclos etc. As cores existentes e marcantes no cartaz são o laranja e o vermelho.

Vermelho que está presente apenas nos cabelos de Lola, fazendo aqui a relação com o fato dela passar o filme todo correndo – o vermelho é a cor que mais eleva os batimentos cardíacos e a pressão arterial – e ela corre por amor e paixão, sensações também relacionadas a cor vermelha.

O laranja, apresentado em algumas palavras também tem relação com ação, vitalidade e felicidade e Lola cria mais essas duas histórias após a primeira justamente por buscar um final feliz para ela e seu namorado. Além disso Lola está em branco e Rennt em preto, representação dos opostos, dos ciclos presentes em todo o filme.

O vermelho de seus cabelos e o laranja do texto logo abaixo do nome do filme ajudam na leitura verticalizada do cartaz, prendendo o nosso olhar nessa linha principal formada entre o cabelo e o texto, memorizando mais facilmente o nome e fazendo um ciclo com nosso olhar, uma vez que o vermelho corre para baixo em direção ao laranja – as duas cores se atraem visualmente pela proximidade da cor/luz de cada uma. Chegando no laranja, a nossa visão retorna ao vermelho e assim em diante.


 

Patafísica

Esse é um filme que está totalmente baseado na linguagem da patafísica, que fala da leitura em ciclos infinitos como em uma espiral. Isso fica claro desde o início do filme onde a personagem aparece, em desenho animado, descendo uma escada em espiral, onde existe uma porta com um elemento vazado em espiral.

Logo depois aparece uma figura de um dragão comendo o próprio rabo – um dos símbolos da patafísica é o ouroboros, uma cobra comendo o próprio rabo, simbolizando o infinito. Sem falar de um travesseiro com espirais pintadas, um relógio em espiral etc. entre tantos outros elementos. Sem dúvida, contudo, o mais genial é a linguagem de câmera também em espiral e que se repete em cada início de história.

Acredito que Corra Lola Corra seja um filme quase que obrigatório a todos nós que trabalhamos com linguagem visual, principalmente as inconscientes ou subliminares. Fica aqui a dica: quem não viu alugue já!

   
 

Márcia Okida (1967) é designer gráfico, sócia da Assessoria Brasileira da Cor, professora de Linguagem Gráfica e Estética em cinema e vídeo, membro da SND – Society for News Design – e professora de Design Gráfico e Editoração Eletrônica na Faculdade de Artes e Comunicação (FaAC) da Universidade Santa Cecília (Unisanta).
 

MAIS INFO
 › Website oficial do filme
 
 › Filme no IMDB – Internet Movie Database
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