Título original |
Citizen Kane
|
País / ano |
USA / 1942
|
Direção |
Orson Welles
|
Com |
Joseph Cotten, Dorothy Comingor e eAgnes Moorehead
|





|
|
A desconstrução gráfica de imagens é
uma maneira fácil, criativa, didática e que
causa curiosidade e expectativa nas pessoas que desejam conhecer
mais e profundamente as diversas áreas e linguagens
do design gráfico.
Longe de ser uma área destinada apenas a artistas,
publicitários, ilustradores etc., o design gráfico
e suas linguagens tem se mostrado cada vez mais presente em
todas as formas de expressão visual.
Durante palestras, cursos, exposições, workshops,
que costumo dar dentro da área de comunicação
visual, o momento de maior curiosidade e onde os participantes
assimilam mais todas as linguagens invisíveis, ou seja
subliminares do design, é quando se propõe a
desconstrução dos mais variados tipos de criações
gráficas como: cenas de filmes, cartazes, logotipos,
páginas de jornais ou revistas e até mesmo de
ambientações.
A idéia de descobrir o que existe por de trás
de uma cena de filme, por que um determinado cartaz foi criado
com uma certa disposição, ou por que uma página
de jornal ou revista escolheu determinada fonte de letra e
imagem para sua montagem, aguça a vontade de entender
os mecanismos visuais das informações ali dispostas.
No momento em que se disseca o porquê de uma letra,
se descobre suas formas, seu objetivo e sua força visual,
podendo ser melhor relacionada com um público, um assunto
ou o mercado.
Ao desmontarmos uma diagramação, se descobre
a movimentação, linha de leitura mais forte,
o tempo de fixação do olhar em determinados
pontos podendo, com isso, adequar melhor a criação
as características de gostos e preferências,
por exemplo, de um adolescente ou um adulto.
Fazendo a leitura de uma fotografia descobrimos seu principal
foco, que nem sempre é o maior e mais claramente mostrado,
percebemos a força de um preto e branco ou de um vermelho
e como essas forças podem mudar se estiverem um lugares
diferentes. Com isso podemos escolher com certeza a melhor
imagem para a mensagem textual a ser transmitida.
Aliar a criatividade à vontade de se descobrir e
de criar faz com que todas as teorias de construção
e linguagem gráfica e estética sejam assimiladas
mais facilmente, no início com a busca da desconstrução
de um modo inconsciente, para que posteriormente esse aprendizado
ocorra de uma maneira natural e apareça de um modo
totalmente consciente e carregado de informação
no momento de uma criação.
Como exemplo, coloco a seguir uma desconstrução
de um cartaz do filme Cidadão Kane onde se percebe
claramente uma relação direta entre a linguagem
estética do filme e do cartaz, que revela também
a história base do filme. Vale lembrar que existem
vários cartazes desse filme e que em todos podemos
encontrar as mesmas associações.
Este cartaz traduz uma das principais características
desse belo e histórico filme: a linguagem de câmera.
Cidadão Kane foi um dos primeiros filmes a usar a linguagem
de câmera alta e baixa para transmitir, respectivamente,
inferioridade ou superioridade em suas cenas. Essa linguagem
subliminar é percebida claramente em todo o decorrer
do filme e também pode ser facilmente identificada
nesse cartaz em vários momentos.
Uma câmera alta enquadra a personagem de corpo inteiro
sobre vários jornais. A proporção entre
os jornais e a personagem está exagerada propositalmente,
fazendo com que a câmera alta, mais essa distorção
dos jornais, ajude nessa sensação de que a mídia,
a imprensa, é maior, mais forte que ele.
Já o seu nome, Cidadão Kane, nessa faixa que
é amarela, é mais forte que os jornais e causa
também um impacto maior do que o próprio "Kane"
em vermelho, o que pode ser traduzido como: o controle das
informações pode mudar rápido e facilmente
de mãos. Ora o homem controla, ora ele é controlado.
Do outro lado do cartaz vemos um rosto em closed.
É a imagem mais forte que temos no cartaz. Essa imagem
pode representar o passado e o futuro, já que temos
o rosto de Kane jovem olhando para ele mais velho, de corpo
inteiro. Esse rosto, além de estar em closed
parece estar sendo enquadrado por uma leve câmera baixa.
Essas dualidades todas de enquadramentos, controle de informações,
passado e futuro, também estão presentes na
combinação de cores desse cartaz: azul e amarelo.
Azul representando calma, estabilidade e o amarelo representando
ansiedade, instabilidade e poder.
Uma outra linguagem muito usada no filme e também
presente nesse cartaz é a da gestalt. Essa troca entre
figura e fundo que os enquadramentos e as cores obrigam os
nossos olhos a fazer também existe em praticamente
todo o decorrer do filme, desde o seu início onde ele
ainda criança deixa de ser a imagem principal para
ir ficando preso em uma moldura de janela até o seu
final com o desfecho do Rosebud.
Este foi apenas um exemplo simples e já usado em
alguns cursos e workshops para ajudar o entendimento e a assimilação
das linguagens visuais usadas em filmes, logotipos, cartazes,
revistas ou jornais.
Linguagens como a da gestalt, semiótica, geometrização
visual, linha de leitura, ponto-áureo, linguagem das
formas, tipos e cores, sinestesias gráficas, movimento
visual, adaptação de linguagens (transferência
da linguagem do cinema para o design, do teatro para o design
etc.), enquadramentos, simbologias entre outras, podem ser
vistas em alguns trabalhos de desconstrução
que estão nesse site.
|
|
Márcia
Okida (1967) é designer gráfico,
professora de planejamento visual na faculdade
de Jornalismo disciplinas Revista e Jornal Laboratório,
faz parte do grupo de professores orientadores
de TCCs de Publicidade e Jornalismo e também
intregra a Coordenação do curso
de jornalismo na Unisanta (Universidade Santa
Cecília). |
|
|