Grupo dos apreciadores das artes
aplicadas ao entretenimento
eletrÔnico e interativo.

Início | Artigos | Publicação

Videogame enquanto arte

Em 600 páginas, o livro 1000 Game Heroes disseca a estética dos personagens de jogos eletrônicos.

 

Por Alexandre Matias

 

"Quando você vê um jogo eletrônico, o que vê?", pergunta o editor francês David Choquet, "Artistas gráficos, artistas 3D – que são meio escultores –, músicos, gente que faz story-board, animadores, programadores e por aí vai. Videogames são, de certa forma, um coquetel de várias artes, ligando isso à interatividade. Juntar todos estes talentos? uma forma de arte, não?".

Como discordar? Afinal de contas, há tempos os jogos de videogame se importam apenas com a infame jogabilidade. A evolução dos processadores envolvidos é tamanha que qualquer cartucho conta com uma série de detalhes em sua produção que é até um certo atrevimento não tratá-los como obras de arte. Tanto é verdade que seus gráficos ganham, no próximo mês (e no final do ano, com edição brasileira), o calhamaço 1000 Game Heroes.

Videogames são, de certa forma, um coquetel de várias artes

 

   

Editado por Choquet, ex-editor de games da revista francesa PC Fun e do site GameKult.com (com mais de 11 milhões de hits por mês), o livro vai ser lançado no mundo todo pela respeitada editora alemã Taschen (famosa por seus livros luxuosos de arte e fotografia). "Não há nenhuma publicação deste tipo no mundo", garante o editor Julius Wiedemann, "nem no Japão".

No livro, além de personagens famosos e cenas exclusivas (algumas delas reproduzidas, com exclusividade, por estas páginas), o leitor ainda encontra textos de bambas do game design. "Eu entrei em contato com alguns deles e eles me honraram com textos próprios para o livro. O volume é dividido em dez capítulos, com títulos como "Lendas do Videogame", "Heróis Sexy", "Heróis do Futuro" e disse a cada um deles que eles poderiam escrever o que
quisessem a partir do nome do capítulo". Os textos incluem nomes como Jason Rubin (da Naughty Dog), Peter Molyneux (designer do Lionhead), Bill Roper (da Blizzard Entertainment), Fred Raynal (da No Cliche), David Cage (da Quantic Dream) and Shigeru Miyamoto (o papa da Nintendo).

 

David fala de seu contato com os designers: "Eles não são geeks. Eles amam videogame e, como qualquer trabalho ou artista, são legais e educados com as pessoas – mesmo quando viajam um pouco. Jason Rubin, criador do Crash Bandicoot e de Ják&Daxter, não parava de contar piadas durante todo o processo".

Choquet fala do trabalho que o livro deu. "Primeiro, foi a seleção, que foi difícil. Mesmo com 600 páginas de livro, não dá pra colocar todos. Juntar todas as imagens também foi complicado, principalmente de jogos mais antigos. Fiquei maravilhado quando a Sega me mandou os originais do Golden Axe feitos à mão. Eu fiquei maluco".

A pesquisa ajudou o editor a teorizar sobre o assunto. "O desenho de um personagem tem uma boa responsabilidade no sucesso do jogo", explica, "se o jogador gostar do personagem, ele ajuda muito no jogo. Mas é o gameplay (a tal "jogabilidade") que faz a diferença. Depende do jogo: se a ação é legal, os jogadores vão gostar do personagem. Por outro lado, às vezes você vê um personagem legal e não consegue pensar outra coisa senão: 'Uau! Esse cara ou
desenho ou garota ou robô é legal. Quero controlá-lo!'. No fim, os dois exemplos dão na mesma: gameplay e personagem precisam ser bem bolados".

"O personagem perfeito deve ter algo que todos podem achar uma parte de sua personalidade, mas é preciso ter boa jogabilidade", ele continua, "Afinal, jogos são entretenimento, em primeiro lugar. Como um personagem pode ser legal se o mundo que o cerca não for fascinante, desafiador e divertido? Veja Mario, que sempre é um bom exemplo: ele é bonitinho, mas é inusitado também – ele é um baixinho de bigode, afinal de contas – e seu universo é um lugar onde os jogadores podem encontrar diversão, surpresas e desafios".

Choquet cruza os dedos para o sucesso do livro, que inevitavelmente o levaria a um segundo volume. "Eu adoraria", ele conclui, "não consegui colocar todos os personagens que gostaria. Se o livro tivesse umas cinco mil páginas...".

Título
1000 Heróis de jogo
Autor
David Choquet
Editora
Tashen
Formato
LxA: 196 x 249 mm, 608 páginas
Idiomas disponiveis
Inglês, francês, alemão, italiano, espanhol e português
AGOSTO/2002

 
Seções: Início | Artigos | Sobre a Benzaiten
Canais: Blog | Glossário | Fotografia Virtual

Colaboração: Jean Escoto | Hospedagem: Hugo Cristo