Videogame enquanto arte
Em
600 páginas, o livro 1000 Game Heroes disseca a estética
dos personagens de jogos eletrônicos.
"Quando você vê um jogo eletrônico,
o que vê?", pergunta o editor francês David
Choquet, "Artistas gráficos, artistas 3D
que são meio escultores , músicos, gente
que faz story-board, animadores, programadores e por aí
vai. Videogames são, de certa forma, um coquetel de
várias artes, ligando isso à interatividade.
Juntar todos estes talentos? uma forma de arte, não?".
Como discordar? Afinal de contas, há
tempos os jogos de videogame se importam apenas com a infame
jogabilidade. A evolução dos processadores envolvidos
é tamanha que qualquer cartucho conta com uma série
de detalhes em sua produção que é até um certo
atrevimento não tratá-los como obras de arte.
Tanto é verdade que seus gráficos ganham, no
próximo mês (e no final
do ano, com edição brasileira), o calhamaço
1000 Game Heroes.
Videogames são, de certa forma,
um coquetel de várias artes |
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Editado por Choquet, ex-editor de games da revista francesa
PC Fun e do site GameKult.com (com mais de 11 milhões
de hits por mês), o livro vai ser lançado no
mundo todo pela respeitada editora alemã Taschen (famosa
por seus livros luxuosos de arte e fotografia). "Não
há nenhuma publicação deste tipo no mundo",
garante o editor Julius Wiedemann, "nem no Japão".
No livro, além de personagens famosos e cenas exclusivas
(algumas delas reproduzidas, com exclusividade, por estas
páginas), o leitor ainda encontra textos de bambas
do game design. "Eu entrei em contato com alguns deles
e eles me honraram com textos próprios para o livro.
O volume é dividido em dez capítulos, com títulos
como "Lendas do Videogame", "Heróis
Sexy", "Heróis do Futuro" e disse a
cada um deles que eles poderiam escrever o que
quisessem a partir do nome do capítulo". Os textos
incluem nomes como Jason Rubin (da Naughty Dog), Peter Molyneux
(designer do Lionhead), Bill Roper (da Blizzard Entertainment),
Fred Raynal (da No Cliche), David Cage (da Quantic Dream)
and Shigeru Miyamoto (o papa da Nintendo).
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David
fala de seu contato com os designers: "Eles não
são geeks. Eles amam videogame e, como qualquer trabalho
ou artista, são legais e educados com as pessoas
mesmo quando viajam um pouco. Jason Rubin, criador do Crash
Bandicoot e de Ják&Daxter, não parava de
contar piadas durante todo o processo".
Choquet fala do trabalho que o livro deu. "Primeiro,
foi a seleção, que foi difícil. Mesmo
com 600 páginas de livro, não dá pra
colocar todos. Juntar todas as imagens também foi complicado,
principalmente de jogos mais antigos. Fiquei maravilhado quando
a Sega me mandou os originais do Golden Axe feitos à
mão. Eu fiquei maluco".
A pesquisa ajudou o editor a teorizar sobre o assunto. "O
desenho de um personagem tem uma boa responsabilidade no sucesso
do jogo", explica, "se o jogador gostar do personagem,
ele ajuda muito no jogo. Mas é o gameplay (a tal "jogabilidade")
que faz a diferença. Depende do jogo: se a ação
é legal, os jogadores vão gostar do personagem.
Por outro lado, às vezes você vê um personagem
legal e não consegue pensar outra coisa senão:
'Uau! Esse cara ou
desenho ou garota ou robô é legal. Quero controlá-lo!'.
No fim, os dois exemplos dão na mesma: gameplay e personagem
precisam ser bem bolados".
"O personagem perfeito deve ter algo que todos podem
achar uma parte de sua personalidade, mas é preciso
ter boa jogabilidade", ele continua, "Afinal, jogos
são entretenimento, em primeiro lugar. Como um personagem
pode ser legal se o mundo que o cerca não for fascinante,
desafiador e divertido? Veja Mario, que sempre é um
bom exemplo: ele é bonitinho, mas é inusitado
também ele é um baixinho de bigode, afinal
de contas e seu universo é um lugar onde os
jogadores podem encontrar diversão, surpresas e desafios".
Choquet cruza os dedos para o sucesso do livro, que inevitavelmente
o levaria a um segundo volume. "Eu adoraria", ele
conclui, "não consegui colocar todos os personagens
que gostaria. Se o livro tivesse umas cinco mil páginas...".
Título |
1000 Heróis de jogo |
Autor |
David Choquet |
Editora |
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Formato
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LxA: 196 x 249 mm, 608 páginas |
Idiomas
disponiveis |
Inglês, francês,
alemão, italiano, espanhol e português |
AGOSTO/2002
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Detalhes do livro na editora: Tashen
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Texto originalmente publicado na revista Play
de agosto/2002 foi revisado com autor para reedição na Benzaiten.
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