8 Bit Instrumental no Video Games Live 2007
No último domingo de setembro de 2007, o Centro de
Convenções Ulisses Guimarães, em Brasília
(DF), foi palco do evento que é reconhecido mundialmente
como um dos maiores espetáculos artísticos relacionados
à cultura dos jogos eletrônicos: o Vídeo
Games Live (VGL), concebido em 2002 pelos compositores de
trilhas sonoras para video game Tommy Tallarico (apresentador
do espetáculo) e Jack Wall (maestro). Após a
bem sucedida turnê brasileira em 2006 pelas cidades
de São Paulo e Rio de Janeiro, o distrito federal foi
também incluído no circuito brasileiro de shows
desse ano.
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Jack Wall e Tommy Tallarico em ação.
Foto por: Roberto Fleury. |
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E mais ainda. Além da performance da Orquestra Villa
Lobos, do coral e de Martin Leung no piano solo, o evento
contou com a participação de Lucas Vandanezi
executando o medley de temas do Super Mario no violão
solo e também da banda 8 Bit Instrumental, da qual
faço parte como guitarrista e tecladista, executando
um medley com dois temas de Super Metroid
e outros dois de Street Fighter II.
A seguir contarei os detalhes do que para nós foi
o maior acontecimento de nossas vidas, seja como músicos
ou como apreciadores da trilha sonora para video games.
A banda 8 Bit Instrumental
A banda 8 Bit Instrumental foi idealizada em 2005 e formada
na prática em 2007 no triângulo mineiro, mais
especificamente Araguari e Uberlândia. Desde o início
a proposta é de ser uma banda que fizesse apresentações
ao vivo. Não tínhamos o interesse em apenas
gravar versões e mandar pra pessoas via Internet. Queríamos
levar ao público a sensação nostálgica
que essas músicas nos traziam. Sem grandes pretensões,
a ordem era fazer um som que nos dava prazer e diversão,
que tivesse a nossa cara, que tivesse a ver com a gente e
que, mesmo sem fins lucrativos, fosse feito com cuidado.
Desde a primeira formação conta com Rodrigo
Fontes Nepomuceno na guitarra, Moisés Filho na bateria,
Luciano de Oliveira Marques no baixo e André Luiz Oliveira,
que vos escreve, na guitarra e teclado. Além dos instrumentistas,
o projeto vem contando com a ajuda de vários outros
profissionais, estudantes e amigos que compartilham o prazer
pelos games antigos. No episódio VGL 2007,
uma dessas ajudas foi de suma importância. Sofia Vieira,
namorada do Rodrigo, foi quem deu o primeiro impulso para
que tudo o que contarei a seguir acontecesse.
O convite
O contato aconteceu de forma bastante inesperada pelos componentes
da banda. Conseguir entrar em contato com Tommy Tallarico
parecia praticamente impossível e estava fora de cogitação.
Sequer era algo comentado seriamente ou mesmo levado em consideração
por nós, mas é claro que já tínhamos
comentado por brincadeira: “Imagina a banda tocando
no Video Games Live!”.
Mais ou menos um mês antes da equipe do VGL iniciar
a turnê brasileira, Sofia mandou em nome da banda uma
mensagem via MySpace para Tommy sem que soubéssemos.
Nessa primeira mensagem ela apenas dizia, em nosso nome, estarmos
ansiosos pela apresentação do VGL no Brasil.
Em seguida acrescentou os links de alguns de nossos
vídeos que chamamos de Projeto 8 Bit Plus Edition,
caso Tommy tivesse interesse em assistir. Para nossa surpresa
a mensagem foi respondida e, para maior surpresa ainda, a
resposta veio junto com o convite pra fazermos algo juntos
em seus shows pelo Brasil.
Respondemos à mensagem agradecendo o convite e pedindo
mais detalhes, afinal de contas queríamos ter a certeza
de um convite efetivo e certo. A notícia não
foi divulgada com antecedência porque faltava a confirmação
definitiva e todos os detalhes acertados. Nessa mesma semana
Tommy respondeu explicando estar muito ocupado com a gravação
do CD e DVD do Vídeo Games Live, mas que entraria em
contato brevemente pra falar mais a respeito do evento.
No sábado anterior ao show de São
Paulo, assim que chegou ao Brasil, Tommy nos contatou por
e-mail, dessa vez mencionando o que poderíamos
tocar e detalhes a respeito da formação da banda.
Sugeriu que fizéssemos algo de Megaman X e
Super Mario World. A idéia do Super Mario
foi abandonada, pois já seria executado pela orquestra
e por Martin Leung. Respondemos e ficamos sem contato até
que, duas semanas depois, na sexta-feira anterior ao evento
de Brasília, chega uma nova mensagem. Dessa vez ele
nos pede um contato por telefone ou Skype.
Tínhamos então algo concreto. Ficou combinado
que estaríamos no local do evento, no domingo às
10h, que acabou sendo adiado para as 11h. Tommy sugeriu que
tocássemos algo que os brasileiros quisessem bastante
e que não estava no repertório do VGL. Seria
um medley de Super Metroid e Street
Fighter II, executados em 5 minutos, o tempo que teríamos
durante a apresentação pra fazer nossa aparição.
Depois da confirmação, passamos o sábado
todo nos preparando para sair em viagem para o que seria o
melhor evento musical que já presenciamos e mais ainda,
que já participamos.
Os primeiros contatos em Brasília
Já em Brasília, a equipe da produção
brasileira nos recebeu muito bem, muito embora também
estivessem surpresos com nossa participação
no show, pois só no sábado anterior
ao evento tinham sido avisados da nossa ida. O primeiro contato
foi com Sérgio Murilo Carvalho, diretor da empresa
carioca Conexão Cultural, que organiza os shows
do VGL no Brasil desde a turnê de 2006. O equipamento
levado do Rio de Janeiro para Brasília suportava apenas
a orquestra e, dado a isso, chegou a ser cogitada a opção
de não tocarmos. Para nosso ânimo total, a última
frase do Sérgio foi: “Mas o Tommy quer que vocês
toquem”. A tarde foi de muita correria: foi preciso
alugar alguns equipamentos, mas toda a equipe, sempre muito
atenciosa, facilitou bastante o trabalho para que tudo fosse
o melhor possível. Levamos então todo nosso
equipamento para o palco, esperando a chegada do nosso anfitrião
para começarmos a organizar o que fosse necessário.
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Depois da passagem de som, uma pequena
pausa para a foto com Tommy Tallarico. Foto por: Sofia
Vieira. |
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No horário combinado chega e nos é apresentado
Jack Wall, o simpático maestro que comandaria a Orquestra
Villa Lobos durante o concerto. Jack já começa
a vistoriar pessoalmente todos os detalhes, como o posicionamento
das cadeiras do pessoal da orquestra, estantes de partitura,
espaço no palco, enfim. Alguns minutos depois, chega
Tommy Tallarico, com toda a sua irreverência. Assim
que fomos todos apresentados, Rodrigo e Sofia – que
tinham mais facilidade pra se comunicar em inglês –
procuraram discutir o que precisaríamos, onde nos posicionaríamos,
entre outros detalhes.
A passagem de som foi rápida, afinal de contas estaríamos
no palco por apenas cinco minutos. Depois de todo o equipamento
montado e regulado, tocamos a música duas ou três
vezes para os ajustes finais. A tarde foi bastante cansativa,
mas sabíamos que era a preparação para
um grande espetáculo e teria que sair tudo dentro do
planejado.
Finalmente, o show!
Rodrigo ficou no centro de convenções para
assistir à passagem de som da orquestra e conferir
de perto os últimos ajustes do coral, com o qual Jack
teve cuidado especial repassando todos os ritmos, articulações
e interpretações antes do último ensaio
geral para a apresentação. Enquanto isso, o
restante da banda retornou pra onde estavam hospedados a fim
de nos preparar pra retornar ao show.
O horário previsto para o início era 19h. Com
alguns poucos minutos de atraso o evento deu início
com o concurso de cosplay†,
com o qual a platéia se divertiu prá valer.
Em seguida as luzes se apagam e se inicia um vídeo
clipe muito bem humorado da Mrs. Pac-Man. Após
a inusitada introdução, o espetáculo
deu início. Com algumas diferenças no repertório
do show de 2006, tudo aconteceu como previsto e foi
maravilhoso como previsto, com grande destaque para os ótimos
instrumentistas da Orquestra Villa Lobos de Brasília,
assim como também o ótimo coral.
Como combinado, entraríamos no palco às 19h52
(sim, tudo devidamente cronometrado minuto a minuto) após
o tema de Tron. O pequeno atraso de 15 minutos no
início do show não interferiu no andamento
do restante do evento. Até os momentos em que Tommy
subia ao palco para agitar o público eram devidamente
controlados. A justa organização de um evento
desse porte.
Nos acordes finais de Tron já estávamos
posicionados ao fundo do auditório, esperando o chamado.
Ouvir Tommy Tallarico nos apresentar e chamar foi algo realmente
emocionante pra nós, mesmo que tenha sido engraçado
a pronúncia de 8 Bit Instrumental em seu idioma. Ao
contrário das outras participações no
evento que entravam pelas laterais do palco, entramos pela
frente, por uma pequena escada. O cuidado do momento era “não
tropeçar” (literalmente e musicalmente!). Empunhamos
nossos instrumentos, repassamos a afinação e
nos preparamos. Pronto! Quando menos percebi, estava nos últimos
compassos do tema Ken Stage, de Street Fighter
II.
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A vez da banda 8 Bit Instrumental
no palco.
Foto por: Roberto Fleury. |
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Depois dos aplausos no início de cada tema, vieram
os aplausos finais e o agradecimento de Tommy. Todo o trabalho
e expectativa de dois dias inteiros pareceu ter durado um
minuto! Talvez o minuto mais empolgante e recompensador de
minha vida como músico até hoje. O fato de estarmos
realizando o projeto que mais gostamos, o fato de estarmos
tocando pra pessoas que foram ali especificamente para ouvir
video game music e, finalmente o fato de estarmos
no Video Games Live: tudo se converteu a essa satisfação!
Depois da apresentação voltamos aos nossos lugares,
agora na platéia, para aproveitar o restante da apresentação.
Mesmo com os crachás de acesso total – ou quase
total, pois os únicos lugares aos quais não
tínhamos acesso eram os camarins pessoais de Jack e
Tommy – não havia o que fazer nos camarins: afinal
de contas, era o Video Games Live que estava acontecendo ali.
Outro fato interessante e que não posso deixar de
citar, foi conhecer o “Mario Pianist” ou “The
Blindfold Pianist”, enfim, Martin Leung. Lembro-me que
conheci seu primeiro vídeo, que transitou pela rede
mundial de computadores antes mesmo do YouTube estar em ativa,
e já era um sucesso. Eu sempre mostrava aos amigos
dizendo: “Olha isso aqui, galera! O cara faz dez minutos
de músicas do Mario e é muito bom!”. Também
muito agradável e simpático, demonstrou todo
seu talento, mesmo que ainda bem jovem, executando temas de
Chrono Cross, Final Fantasy VII e Super
Mario Bros.
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Lucas Vandanezi e Martin Leung ao
lado de Tommy Tallarico e Jack Wall: despedida para
a platéia brasileira e a certeza da volta em
2008. Foto por: Roberto Fleury. |
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Além da pequena participação no evento,
cerca de 5 minutos, assisti-lo foi algo único. Eu,
que não sou jogador das franquias atuais de video
game, certamente me emocionei muito mais nos momentos
em que tocavam os temas de jogos das primeiras gerações
de consoles, até alguns da quarta, como o Arcade
Medley, executado no início do show,
bem como Super Mario, Sonic, Out Run
e Legend of Zelda. Saímos dali realizados
como instrumentistas, realizados como ouvintes e felizes com
a receptividade do público, que também apoiou
a iniciativa de Tommy em colocar uma banda local no evento.
Nos resta, então, esperar pelas surpresas da próxima
turnê do Video Games Live pelo Brasil que, segundo Tommy,
ao final do show, com certeza será em 2008.
OUTUBRO/2007
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André
Luiz Oliveira (1985), nascido na cidade de Araguiari
(MG), formado no curso técnico de guitarra pelo
Conservatório Estadual de Música Raul
Belém (onde também deu aulas) e formado
em Música/Violão na Universidade Federal
de Uberlândia. Montou a banda 8 Bit Instrumental,
com a proposta de fazer releituras de músicas
de consoles antigos.
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Alexandre
Maravalhas (1971), curitibano, profissional na área
do design gráfico, é fundador da Benzaiten,
editando o site e blog do grupo.
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Agradecimento a Roberto Fleury do blog
Baldorium,
que gentilmente autorizou a utilização
das fotos. Mais imagens podem ser acessadas
aqui.
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