Grupo dos apreciadores das artes
aplicadas ao entretenimento
eletrÔnico e interativo.

Início | Artigos | Vinheta

8 Bit Instrumental no Video Games Live 2007

 

Por André Luiz Oliveira

Edição Alexandre Maravalhas

 

No último domingo de setembro de 2007, o Centro de Convenções Ulisses Guimarães, em Brasília (DF), foi palco do evento que é reconhecido mundialmente como um dos maiores espetáculos artísticos relacionados à cultura dos jogos eletrônicos: o Vídeo Games Live (VGL), concebido em 2002 pelos compositores de trilhas sonoras para video game Tommy Tallarico (apresentador do espetáculo) e Jack Wall (maestro). Após a bem sucedida turnê brasileira em 2006 pelas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, o distrito federal foi também incluído no circuito brasileiro de shows desse ano.

 
Jack Wall e Tommy Tallarico em ação. Foto por: Roberto Fleury.
 
     

E mais ainda. Além da performance da Orquestra Villa Lobos, do coral e de Martin Leung no piano solo, o evento contou com a participação de Lucas Vandanezi executando o medley de temas do Super Mario no violão solo e também da banda 8 Bit Instrumental, da qual faço parte como guitarrista e tecladista, executando um medley com dois temas de Super Metroid e outros dois de Street Fighter II.

A seguir contarei os detalhes do que para nós foi o maior acontecimento de nossas vidas, seja como músicos ou como apreciadores da trilha sonora para video games.

A banda 8 Bit Instrumental

A banda 8 Bit Instrumental foi idealizada em 2005 e formada na prática em 2007 no triângulo mineiro, mais especificamente Araguari e Uberlândia. Desde o início a proposta é de ser uma banda que fizesse apresentações ao vivo. Não tínhamos o interesse em apenas gravar versões e mandar pra pessoas via Internet. Queríamos levar ao público a sensação nostálgica que essas músicas nos traziam. Sem grandes pretensões, a ordem era fazer um som que nos dava prazer e diversão, que tivesse a nossa cara, que tivesse a ver com a gente e que, mesmo sem fins lucrativos, fosse feito com cuidado.

Desde a primeira formação conta com Rodrigo Fontes Nepomuceno na guitarra, Moisés Filho na bateria, Luciano de Oliveira Marques no baixo e André Luiz Oliveira, que vos escreve, na guitarra e teclado. Além dos instrumentistas, o projeto vem contando com a ajuda de vários outros profissionais, estudantes e amigos que compartilham o prazer pelos games antigos. No episódio VGL 2007, uma dessas ajudas foi de suma importância. Sofia Vieira, namorada do Rodrigo, foi quem deu o primeiro impulso para que tudo o que contarei a seguir acontecesse.

O convite

O contato aconteceu de forma bastante inesperada pelos componentes da banda. Conseguir entrar em contato com Tommy Tallarico parecia praticamente impossível e estava fora de cogitação. Sequer era algo comentado seriamente ou mesmo levado em consideração por nós, mas é claro que já tínhamos comentado por brincadeira: “Imagina a banda tocando no Video Games Live!”.

Mais ou menos um mês antes da equipe do VGL iniciar a turnê brasileira, Sofia mandou em nome da banda uma mensagem via MySpace para Tommy sem que soubéssemos. Nessa primeira mensagem ela apenas dizia, em nosso nome, estarmos ansiosos pela apresentação do VGL no Brasil. Em seguida acrescentou os links de alguns de nossos vídeos que chamamos de Projeto 8 Bit Plus Edition, caso Tommy tivesse interesse em assistir. Para nossa surpresa a mensagem foi respondida e, para maior surpresa ainda, a resposta veio junto com o convite pra fazermos algo juntos em seus shows pelo Brasil.

Respondemos à mensagem agradecendo o convite e pedindo mais detalhes, afinal de contas queríamos ter a certeza de um convite efetivo e certo. A notícia não foi divulgada com antecedência porque faltava a confirmação definitiva e todos os detalhes acertados. Nessa mesma semana Tommy respondeu explicando estar muito ocupado com a gravação do CD e DVD do Vídeo Games Live, mas que entraria em contato brevemente pra falar mais a respeito do evento.

No sábado anterior ao show de São Paulo, assim que chegou ao Brasil, Tommy nos contatou por e-mail, dessa vez mencionando o que poderíamos tocar e detalhes a respeito da formação da banda. Sugeriu que fizéssemos algo de Megaman X e Super Mario World. A idéia do Super Mario foi abandonada, pois já seria executado pela orquestra e por Martin Leung. Respondemos e ficamos sem contato até que, duas semanas depois, na sexta-feira anterior ao evento de Brasília, chega uma nova mensagem. Dessa vez ele nos pede um contato por telefone ou Skype.

Tínhamos então algo concreto. Ficou combinado que estaríamos no local do evento, no domingo às 10h, que acabou sendo adiado para as 11h. Tommy sugeriu que tocássemos algo que os brasileiros quisessem bastante e que não estava no repertório do VGL. Seria um medley de Super Metroid e Street Fighter II, executados em 5 minutos, o tempo que teríamos durante a apresentação pra fazer nossa aparição. Depois da confirmação, passamos o sábado todo nos preparando para sair em viagem para o que seria o melhor evento musical que já presenciamos e mais ainda, que já participamos.

Os primeiros contatos em Brasília

Já em Brasília, a equipe da produção brasileira nos recebeu muito bem, muito embora também estivessem surpresos com nossa participação no show, pois só no sábado anterior ao evento tinham sido avisados da nossa ida. O primeiro contato foi com Sérgio Murilo Carvalho, diretor da empresa carioca Conexão Cultural, que organiza os shows do VGL no Brasil desde a turnê de 2006. O equipamento levado do Rio de Janeiro para Brasília suportava apenas a orquestra e, dado a isso, chegou a ser cogitada a opção de não tocarmos. Para nosso ânimo total, a última frase do Sérgio foi: “Mas o Tommy quer que vocês toquem”. A tarde foi de muita correria: foi preciso alugar alguns equipamentos, mas toda a equipe, sempre muito atenciosa, facilitou bastante o trabalho para que tudo fosse o melhor possível. Levamos então todo nosso equipamento para o palco, esperando a chegada do nosso anfitrião para começarmos a organizar o que fosse necessário.

 
Depois da passagem de som, uma pequena pausa para a foto com Tommy Tallarico. Foto por: Sofia Vieira.
 
     

No horário combinado chega e nos é apresentado Jack Wall, o simpático maestro que comandaria a Orquestra Villa Lobos durante o concerto. Jack já começa a vistoriar pessoalmente todos os detalhes, como o posicionamento das cadeiras do pessoal da orquestra, estantes de partitura, espaço no palco, enfim. Alguns minutos depois, chega Tommy Tallarico, com toda a sua irreverência. Assim que fomos todos apresentados, Rodrigo e Sofia – que tinham mais facilidade pra se comunicar em inglês – procuraram discutir o que precisaríamos, onde nos posicionaríamos, entre outros detalhes.

A passagem de som foi rápida, afinal de contas estaríamos no palco por apenas cinco minutos. Depois de todo o equipamento montado e regulado, tocamos a música duas ou três vezes para os ajustes finais. A tarde foi bastante cansativa, mas sabíamos que era a preparação para um grande espetáculo e teria que sair tudo dentro do planejado.

Finalmente, o show!

Rodrigo ficou no centro de convenções para assistir à passagem de som da orquestra e conferir de perto os últimos ajustes do coral, com o qual Jack teve cuidado especial repassando todos os ritmos, articulações e interpretações antes do último ensaio geral para a apresentação. Enquanto isso, o restante da banda retornou pra onde estavam hospedados a fim de nos preparar pra retornar ao show.

O horário previsto para o início era 19h. Com alguns poucos minutos de atraso o evento deu início com o concurso de cosplay, com o qual a platéia se divertiu prá valer. Em seguida as luzes se apagam e se inicia um vídeo clipe muito bem humorado da Mrs. Pac-Man. Após a inusitada introdução, o espetáculo deu início. Com algumas diferenças no repertório do show de 2006, tudo aconteceu como previsto e foi maravilhoso como previsto, com grande destaque para os ótimos instrumentistas da Orquestra Villa Lobos de Brasília, assim como também o ótimo coral.

Como combinado, entraríamos no palco às 19h52 (sim, tudo devidamente cronometrado minuto a minuto) após o tema de Tron. O pequeno atraso de 15 minutos no início do show não interferiu no andamento do restante do evento. Até os momentos em que Tommy subia ao palco para agitar o público eram devidamente controlados. A justa organização de um evento desse porte.

Nos acordes finais de Tron já estávamos posicionados ao fundo do auditório, esperando o chamado. Ouvir Tommy Tallarico nos apresentar e chamar foi algo realmente emocionante pra nós, mesmo que tenha sido engraçado a pronúncia de 8 Bit Instrumental em seu idioma. Ao contrário das outras participações no evento que entravam pelas laterais do palco, entramos pela frente, por uma pequena escada. O cuidado do momento era “não tropeçar” (literalmente e musicalmente!). Empunhamos nossos instrumentos, repassamos a afinação e nos preparamos. Pronto! Quando menos percebi, estava nos últimos compassos do tema Ken Stage, de Street Fighter II.

 
A vez da banda 8 Bit Instrumental no palco.
Foto por: Roberto Fleury.
 
     

Depois dos aplausos no início de cada tema, vieram os aplausos finais e o agradecimento de Tommy. Todo o trabalho e expectativa de dois dias inteiros pareceu ter durado um minuto! Talvez o minuto mais empolgante e recompensador de minha vida como músico até hoje. O fato de estarmos realizando o projeto que mais gostamos, o fato de estarmos tocando pra pessoas que foram ali especificamente para ouvir video game music e, finalmente o fato de estarmos no Video Games Live: tudo se converteu a essa satisfação! Depois da apresentação voltamos aos nossos lugares, agora na platéia, para aproveitar o restante da apresentação. Mesmo com os crachás de acesso total – ou quase total, pois os únicos lugares aos quais não tínhamos acesso eram os camarins pessoais de Jack e Tommy – não havia o que fazer nos camarins: afinal de contas, era o Video Games Live que estava acontecendo ali.

Outro fato interessante e que não posso deixar de citar, foi conhecer o “Mario Pianist” ou “The Blindfold Pianist”, enfim, Martin Leung. Lembro-me que conheci seu primeiro vídeo, que transitou pela rede mundial de computadores antes mesmo do YouTube estar em ativa, e já era um sucesso. Eu sempre mostrava aos amigos dizendo: “Olha isso aqui, galera! O cara faz dez minutos de músicas do Mario e é muito bom!”. Também muito agradável e simpático, demonstrou todo seu talento, mesmo que ainda bem jovem, executando temas de Chrono Cross, Final Fantasy VII e Super Mario Bros.

 
Lucas Vandanezi e Martin Leung ao lado de Tommy Tallarico e Jack Wall: despedida para a platéia brasileira e a certeza da volta em 2008. Foto por: Roberto Fleury.
 
     

Além da pequena participação no evento, cerca de 5 minutos, assisti-lo foi algo único. Eu, que não sou jogador das franquias atuais de video game, certamente me emocionei muito mais nos momentos em que tocavam os temas de jogos das primeiras gerações de consoles, até alguns da quarta, como o Arcade Medley, executado no início do show, bem como Super Mario, Sonic, Out Run e Legend of Zelda. Saímos dali realizados como instrumentistas, realizados como ouvintes e felizes com a receptividade do público, que também apoiou a iniciativa de Tommy em colocar uma banda local no evento. Nos resta, então, esperar pelas surpresas da próxima turnê do Video Games Live pelo Brasil que, segundo Tommy, ao final do show, com certeza será em 2008.

OUTUBRO/2007

  • Veja também: 
Site oficial da banda 8 Bit Instrumental
Site oficial do Video Games Live
Site oficial do Video Games Live no Brasil
Entrevista cedida ao jornal Correio de Uberândia
Entrevista cedida ao blog Insert Coin
Comentários sobre o evento no blog Baldorium
Mais comentários sobre o evento no blog Baldorium
Cobertura do show de São Paulo pelo blog Hadouken
Postagem no blog Benzaiten
  • André Luiz Oliveira (1985), nascido na cidade de Araguiari (MG), formado no curso técnico de guitarra pelo Conservatório Estadual de Música Raul Belém (onde também deu aulas) e formado em Música/Violão na Universidade Federal de Uberlândia. Montou a banda 8 Bit Instrumental, com a proposta de fazer releituras de músicas de consoles antigos.
  • Alexandre Maravalhas (1971), curitibano, profissional na área do design gráfico, é fundador da Benzaiten, editando o site e blog do grupo.
  • Agradecimento a Roberto Fleury do blog Baldorium, que gentilmente autorizou a utilização das fotos. Mais imagens podem ser acessadas aqui.
Seções: Início | Artigos | Sobre a Benzaiten
Canais: Blog | Glossário | Fotografia Virtual

Colaboração: Jean Escoto | Hospedagem: Hugo Cristo